O jornalista vive de contar a história dos outros. Mas, ao cabo de tudo, a soma dessas histórias, de um modo ou de outro, vai resultar na trajetória de vida do próprio profissional de Imprensa. As tramas que ele narrou- e da forma como narrou – farão parte da sua biografia, de como pensa e age, quais são suas crenças, os valores morais, éticos e sociais; posicionamentos, acrescento, imprescindíveis à função.
Não por acaso se diz que o jornalista é o historiador do cotidiano.
Um tanto formal, mas gosto da definição.
II.
Valho-me dela para justificar a existência dos meus quatro livros publicados (“Às Margens Plácidas do Ipiranga”, “Meus Caros Amigos – Crônicas Sobre Jornalismo, Boêmios e Paixões”, “Katsumi Hirota – Legado Para as Gerações” e o recente ebook “Das Coisas Simples, Sensatas e Sinceras”), do próximo que devo lançar ainda neste semestre (“Volteios – Crônicas, Lembranças e Devaneios”) e mesmo da minha dissertação de mestrado (“Museu do Ipiranga – A Nova Imagem de Uma Instituição Centenária”).
Dia desses, num encontro com uma jovem plateia, alguém me perguntou se pretendo viver dos livros. Se eles me garantiriam sustento e prosperidade.
Uma pergunta natural, feita com a espontaneidade, creio, de um futuro jornalista ou, quiçá, um futuro escritor.
III.
Fiquei surpreso com a pergunta, por mais boboca que possa parecer.
Sou jornalista por ofício, apesar de viver longe das redações.
Gosto de escrever e, certamente, lá em meus mais remotos devaneios, já me vi em lugar distante, paradisíaco, a viver do meu teclar. Mas, tenho consciência que há uma chance remota de que isso aconteça. Raros escritores – e de áreas distintas – se dão ao, digamos, privilégio desta tarefa única.
IV.
Para afiançar minha resposta, disse a eles da trajetória de Carlos Drummond de Andrade – um dos grandes nomes da literatura brasileira – que, durante toda sua vida, trabalho como funcionário público na Biblioteca do Rio de Janeiro. Se ele que está, ao lado de Manuel Bandeira e João Cabral de Mello Neto, entre os maiores poetas contemporâneos, imagine o que esperar deste pobre escriba que vive a se enroscar nas palavras?
Foi a vez de eles ficarem surpresos…
*Amanhã continua…