V.
Aproveitei a perplexidade geral e irrestrita da rapaziada para dizer que Drummond não é caso único. Outros tantos e tamanhos – como Rubem Braga, Carlos Heitor Cony, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Mário Quintana etc – tinham nos livros um instrumento de realização autoral, e pessoal.
Escreviam por vocação e dom.
Tocavam suas vidas com os trocos que recebiam como jornalistas, editores, tradutores e funções correlatas. Muitos enveredaram para a academia; outros fizeram carreira no serviço público; alguns trabalharam em áreas protocolares de embaixadas e consulados, e por aí foram…
VI.
Neste embalo, citei aos presentes a experiência de Sabino e Braga que chegaram a abrir uma editora – a Editora do Autor – para tocar projetos próprios e dos amigos, com independência e suposto controle de todo o processo editorial e o consequente resultado financeiro. Depois de alguns anos, entregaram os pontos, exauridos e com a certeza de que não eram propriamente do ramo administrativo.
Não era fácil viver unicamente dos livros naqueles idos dos anos 50 e 60.
VII.
É bem verdade que muita coisa mudou de lá para cá.
Houve uma explosão no mundo editorial, com ampliação de gêneros, estilos e características dos produtos. Mas, ao que posso perceber, por observação – e também lhes disse -, a luta permanece a mesma – e, diria até, algo inglória.
VIII.
O rapaz da pergunta inicial desfez as minhas suspeitas. Disse que gostava de escrever – e que, por isso, pensava em cursar jornalismo e, mais adiante, também tornar-se escritor.
Não sei se desestimulei o jovem.
Mas, não resisti e lhe falei da célebre frase do saudoso Armando Nogueira, considerado o melhor texto da imprensa esportiva do País:
“Jornalista não gosta de escrever. Gosta de ter escrito.”
No rala-e-rola de uma Redação, a pressão é de tal monta que a gente só volta à
vida quando vê o jornal impresso.
A sensação aí – se tudo estiver nos conformes – é de alívio e prazer.
IX.
Para lhes garantir a relatividade das coisas e dos procedimentos, lembrei aos distintos a trajetória de Carlos Heitor Cony, jornalista e escritor. Ele ficou quase 20 anos sem escrever qualquer obra, longe dos livros. Trabalhou em jornais e revistas, em versões de clássicos literários para jovens. Mas, deu um basta na sua premiada carreira de escritor, após a publicação de Pilatos, em 1974.
Quando reapareceu com Quase Memória, em 1993, lhe perguntaram o motivo que o levou a ficar tanto tempo sem escrever. Ele foi lacônico na resposta.
— Tinha coisa melhor para fazer.
X.
Eu e minhas histórias.
Falo demais.
Desconfio que o jovem desistiu da vocação – e de comprar um exemplar do meu livro…