Ao longo de vinte e tantos anos como repórter na área de cultura, entrevistei muitos dos chamados grandes nomes da chamada música popular brasileira. Particularmente, considero esse período (entre meados dos anos 70 e início da década de 90) um dos mais inquietantes da nossa história e da nossa arte mais representativa: a canção popular.
Reconheço que foi uma experiência que me transformou, seja como profissional, seja como cidadão.
Tão interessantes e tão inesquecíveis que, vez ou outra, eu relembro alguns daqueles encontros como post, aqui, neste espaço.
II.
A historinha de hoje, como já perceberam, vai por esse caminho.
Foi uma coletiva com o mago Raul Seixas na sede da Warner em São Paulo, início dos anos 80, talvez.
Ele estava inspirado, falava pelos cotovelos, sobre tudo e sobre todos.
Mas, o mais importante ficou para depois da conversa. Boa parte dos repórteres se retirou para ‘fechar’ a matéria ainda naquele dia e sair no jornal do dia seguinte. Alguns que trabalhavam em veículos semanais ficaram por ali e ouviram Raul mostrar, violão em punho, uma canção que acabara de compor.
Era “O Conto do Sábio Chinês”, cuja a letra diz o seguinte:
“Era uma vez
Um sábio chinês
Que um dia sonhou
Que era uma borboleta
Voando nos campos
Pousando nas flores
Vivendo assim
Um lindo sonho…
Até que um dia acordou
E pro resto da vida
Uma dúvida
Lhe acompanhou…
Se ele era
Um sábio chinês
Que sonhou
Que era uma borboleta
Ou se era uma borboleta
Sonhando que era
Um sábio chinês…”
III.
Ficamos extasiados ao conhecer aquela preciosidade.
Não duvido que, ainda hoje, tanto tempo depois, muitos de nós não sabem ao certo se viveram mesmo aquele raro momento ou se foi apenas um sonho presenciar aquele raro momento…