Foto: Arquivo Pessoal
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“Vim para dizer uma palavra e devo dizê-la agora. Mas, se a morte me impedir, ela será dita pelo Amanhã, porque o Amanhã nunca deixa segredos no livro da Eternidade.
“Vim para viver na glória do Amor e na luz da beleza, que são reflexos de Deus. Estou aqui, vivendo, e não me podem extrair o usufruto da vida porque, através da minha palavra atuante, sobreviverei mesmo após a morte.
“Vim aqui para ser todos e com todos, e o que faço Hoje na minha solidão ecoará amanhã entre todos os homens.
“O que digo hoje com apenas meu coração será dito Amanhã por milhares de corações.”
Kahli Gibran, no prefácio do livro “A Voz do Mestre”, obra lançada postumamente (1958).
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Esclareço:
Os textos de Gibran (1883-1931), escritor e artista plástico libanês, pretendem promover o auto-conhecimento e fazer com que as pessoas se descobrissem como ponto de partida “para a descoberta da beleza, o deslumbramento da verdade e a revelação de Deus”.
Uma busca cada vez mais ausente entre as premissas da sociedade contemporânea.
Tempo de conflitos, e desumanidades.
Tristes tempos, de irreparável absurdo.
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A lembrança:
– Aprendi o que aprendi com a vida, filho. Ninguém é melhor do que ninguém.
Falou o Velho Aldo, meu pai.
Não era um homem letrado.
Dizia que mal-e-mal conseguira concluír o Grupo Escolar.
Tinha o sonho, creio, de ver o filho formado e diplomado.
-Não precisa ser doutor. Tem que ter ofício e ser justo.
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Meu pai adotou a seguinte estratégia:
Desde cedo me fez conviver com as coleções de livros que trazia para meu deleite e formação.
Óbvio que o garoto preferia os gibis – Cavaleiro Negro, O Fantasma, Roy Rogers e o Zorro, aquele da bala de prata que tem um amigo-índio, o Tonto. O outro, o de capa e espada, nunca curti.
Mas, os livros ficavam ali à minha disposição.
E, vez ou outra, lá ia eu folheá-los, mais por curiosidade.
Eram enciclopédias volumosas e obras infanto-juvenis que o pai comprava em módicas prestações a perder de vista dos vendedores ambulantes (naquela época, existiam e eram muitos) que lhe cruzassem o caminho.
Não eram baratos, mas, dizia ele, “vale o sacrifício”.
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Não sei se era coincidência, conversa de vendedor ou preferência do Velho Aldo, sei que boa parte dos títulos era relacionada a um mundo em que o Bem sempre prevalecia sobre o Mal.
Lembro o sonoro título do verbete Imprensa numa das enciclopédias.
“Jornalismo é a expressão do pensamento social”
Será que…
Deixa pra lá.
Sem ilações!
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Pessoalmente adorava a coleção “Reino Infantil”, repleta de contos oriundos da tradição oriental.
Fantásticos.
Não sei se entendia inteiramente a dimensão das tramas, desconfio que não, mas eu enveredava sonhador pelos mistérios e fantasia que me proporcionavam as letras miúdas e as enigmáticas ilustrações.
Não era raro me sentir um viajante como os heróis de Júlio Verne. Ou um quase-tuareg a vagar pelo deserto escaldante.
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Encontrei, dia desses, o livro do Kalil Gibran num sebo perto de casa.
Bateu a lembrança do pai.
E um enorme vazio das boas coisas que se perderam.
Não resisti.
Era rapazinho de tudo, quando o pai me trouxe um volume de O Profeta, o mais vendido livro do autor.
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Hoje, o novo-velho conflito no Oriente Médio completa um mês.
Um absurdo.
Não sabia o que lhe escrever.
Pensei: três letras são mais do que suficientes para expressar a almejada verdade que a palavra enseja:
PAZ
Retoquei o texto inspirado na lembrança do pai e on trecho da leitura que, ao acaso, fazia – e me era repleta de virtudes e bons presságios.
Foi o caminho que escolhi em nome da PAZ!
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O que você acha?