Foto: Berlim/arquivo pessoal
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Tinha 38 anos quando o Muro de Berlim veio abaixo.
Você ri, moça?
Então, digo-lhe mais. Aqui, no Patropi, estava na iminência de votar pela primeira vez para presidente.
Ah, entendi o riso: você deveria andar na casa dos cinco, seis anos.
Oito?
Então, se fizermos as contas, um pouco pra lá, outro pouco pra cá, você tem hoje a idade que eu tinha naqueles idos.
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Então, deixa eu lhe dizer.
Estávamos encantados. Mesmo na pré-história do celular, da internet, das redes sociais, compartilhávamos o ideal: derrubar as ditaduras e os opressores. Nesse embalo, derrubar aquela muralha na Alemanha e, aqui, escolher o nosso principal mandatário. Sonhos que se transformavam em realidade e traziam em seu bojo a sensação de que, finalmente, a Humanidade tomava jeito e forma.
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Dou-lhe total razão.
Trazíamos em cada um de nós uma incerta ingenuidade. Talvez pelo frágil lirismo inerente à geração paz e amor.
(Assim que nos chamavam e definiam nos anos 70).
Mas, convenhamos…
Onde já se viu?
Um país separado por um trambolho daqueles.
Isso porque dois outros países, que se autodenominavam superpotências queriam dominar o mundo, e assim determinaram de olho nos próprios interesses. Separaram pais e filhos, irmãos, parentes, amigos, famílias. Separam pessoas que se amavam na intenção de implantar, à força, ideologia, interesses, valores…
Era uma tristeza só.
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Aqui também vivíamos dias tensos.
Mas, as barreiras pareciam vencidas com a eleição direta para a Presidência da República.
Sei não.
Mas, desconfio que tanto lá como cá, não sabíamos da missa a metade.
Escrevemos apenas uma parte da história.
Uma parte pequena, aliás.
Assentamos os alicerces, mas deixamos a obra por terminar.
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Acho que foi aí que nos perdemos.
Todo encantamento do muro estilhaçado e do voto popular fez com que nos dispersássemos. Baixamos a guarda e os ânimos se arrefeceram.
A construção da paz e da fraternidade entre os povos (e mesmo entre irmãos de um país; o nosso, por exemplo) tem uma regra: a eterna vigilância.
Não é tão simples e festivo como minha geração imaginou.
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Por que lhe digo tudo isso?
Acho que eu e os meus lhe devemos essa explicação.
E este é o nosso papel.
Vocês têm hoje o comando.
Assim é que é…
Por nós e pelos que ainda estão por vir, não deixem que se construam muros, paredões, cercas, tapumes – de pedra e concreto ou mesmo os ideologicamente invisíveis – entre os povos, entre irmãos, entre os iguais.
Não compactue com os Donos do Poder e os nublados.
Evitem as trevas e o ódio.
Deixem a luz e o sol entrar janelas adentro.
E, por favor, nunca esqueça: somos todos iguais.
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