Ficou o dito pelo não-dito no post anterior – e eu com um remorso danado de não ter ouvido atenciosamente as sinceras considerações do amigo Poeta sobre os dois posts anteriores ao post anterior.
Acordei injuriado com minha falta de cuidado para com um companheiro de idos tempos – talvez, dos raros fiéis seguidores que tenho no blog.
Assim que terminei a aula da manhã de ontem, fui procurá-lo para as devidas desculpas e, humildemente, ouvir o que tinha a me dizer sobre as maltraçadas que escrevo.
Sei que este espaço não é um armazém de secos e molhados, mas também aqui o freguês (leia-se, leitor) tem sempre razão.
II.
Aproveitei os bons fluidos daquele início de tarde, ensolarado e quente, em pleno o inverno, para encontrar o amigo na padoca, onde faz ponto aos sábados a fim de degustar uma suculenta feijoada – outra de suas paixões, junto com a poesia, o (com o perdão da palvra) Corinthians e o tom discursivo de suas perolações.
Não é difícil localizá-lo diante das cumbuquinhas borbulhandes, lépido e fogoso, a salivar de desejo.
— Eaêêêê… Vamos?
Ele me cumprimenta, prato na mão, e olhar faminto.
III.
Entendo que não é a hora adequada, mas não quero deixar malentendidos. Vou direto ao assunto que para lá me carregou:
— Então, Poeta, sobre a nossa conversa de ontem, sobre o meu blog, lembra? Eu queria retomar o assunto…
— Não era nada de importante – respondeu, sem me olhar, atento que estava ao enfiar a colher no pote de feijão preto.
— Mas, você me falou de reparos e… (insisto).
— Nada, não, achei bonito, poético, você voltar à ECA e falar para os primeiros anistas. Pareceu cena daqueles filmes de personagens trapalhões de Woody Allen.
IV.
Para ser franco, não gostei da comparação. Sou um cara simples do bairro do Cambuci. Essas figurinhas que Woody Allen leva para a tela não me parecem lá muito normal, não.
Enfim…
Desisto de maior detalhes – e passo para o outro texto, foco de suas críticas.
Insisto, com outra pergunta:
— E sobre o post que escrevi sobre a canção do Ednardo e a novela Saramandaia?
V.
Nesse exato instante, o amigo deposita o prato – tamanho família de cinco pessoas – na balança para saber quanto terá que pagar pela gula. Imagino que, diante de tamanha fome, não está nem aí para o preço e para as minhas inquietações.
Ele ouviu o que eu lhe disse, no entanto.
E responde com a naturalidade de quem se encaminha para a mesa, onde se dará a comilança, prioridade mor de sua existência, naquele preciso momento.
— Ah! a música… a novela… Então… Achei que você deveria colocar o nome de todo o elenco… Quem foi quem na novela anterior e na versão atual. Ficaria bom.
VI.
Quase o mandei para outros horizontes. Mas preferi encaminhá-lo ao Santo Google, onde ele por conta própria poderia tirar eventuais dúvidas e o que faltou ao texto que escrevi.
Por um instante ameacei perder o bom humor. Desbaratinei ao ver o ímpeto com que o amigo manejava o garfo.
Entendi que era eu – agora – que estava em lugar, hora e com assuntos inadequados.
E, como bela alternativa, tomei lugar na fila em direção as cumbuquinhas da feijoada self-service.