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O novo Dominguín

Não sou – e nunca fui propriamente um folião na acepção do termo.

Por isso, as esparsas lembranças que tenho dos meus carnavais são isso mesmo –esparsas, superficiais. Não pegam, nem desapegam.

Não sei se convém registrá-las nesta crônica de “terça-feira gorda”, como se dizia naqueles idos e havidos tempos que resgato ao olhar este retrato em branco-e-preto, daqueles que se tiravam nos estúdios dos fotógrafos de então. Talvez valha a pena rememorar o garoto de quatro ou cinco anos, vestido de toureiro, que vejo na imagem. Quanta elegância e que pose! Digna de espantar qualquer bovino.

Acredite, se puder, leitor amigo. Tenho uma vaga idéia desta longínqua tarde. Caminhamos – eu, as irmãs de espanholas, o pai e a mãe, junto com o Tio Neno, o provável idealizador das fantasias – da rua da nossa casa, a Muniz de Souza, até o Largo do Cambuci, onde ficava o Foto Studio Oscar, para registrarmos o histórico momento para a posteridade.

No trajeto, dois ou três adultos comentaram, com meus pais, a distinção das nossas indumentárias.

Um amigo do Velho (que ainda era moço) falou que eu seria o novo Dominguín.

Devia ser um elogio, pois o pai sorriu feliz da vida.

Depois da sessão de fotos, estava previsto para irmos a uma matinê infantil não lembro exatamente em qual salão.

Não tenho qualquer lembrança do baile.

Desconfio que acabei ficando na casa da vó Ignês e do vô Carlito.

Preferi brincar sozinho de toureiro. Empunhando minha espada de madeira e manuseando a capa forrada de cetim vermelho, passei o carnaval a desafiar os touros e bisões imaginários.

Era menino de tudo para sonhar com Ava Gardner…

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