Quando chegava o fim de ano o pai se transformava. Desde novembro dobrava jornada de trabalho para reforçar o orçamento das festas. Trabalhava à noite como lixador numa oficina de manequins de gesso (desses que enfeitam as vitrines) e animava-se em fazer planos para a noite da véspera de Natal. Queria toda a família ao redor, incluindo sogros, cunhados, sobrinhos e agregados. Aos filhos, os presentes desejados e, para a paciente mulher (que me atura o ano todo, dizia), uma joia mesmo que fosse apenas banhada a ouro…
Mas, esses mimos só seriam descobertos na manhã do dia seguinte. Era uma praxe que o pai fazia questão de preservar.
A noite de Natal era a festa mais esperada do ano. O curioso é que, em meio à cantoria e a alegria de todos (especialmente da avó e do cunhado que entoavam cancionetas napolitanas), o pai sentava-se à cabeceira da mesa e lá ficava a observar silenciosamente o retrato do que hoje sei chamar-se felicidade…
Só por um momento, logo depois da meia-noite, pedia a atenção e iniciava a oração que dizia assim:
Menino Jesus, rogai por nós
Que tanto e tanto precisamos de vós
De vosso amparo
De vossa luz
De vossa orientação e proteção.
Para que possamos seguir sempre no caminho de Deus
Da verdade, da justiça, do amor, da fraternidade, da felicidade plena para todos os homens.
Intercedei por nós, pelos nossos filhos, pelas pessoas que amamos e por aquelas que nos amam também.
Intercedei por todos nós
Junto ao Deus Pai Todo Poderoso
Ao Filho
E ao Espírito Santo.
Intercedei por nós junto a Virgem Maria
Aos anjos e a todos os santos.
Intercedei por nós.
Renovai nossa fé a cada manhã.
Protegei-nos de todos os males
E abençoai-nos sempre…
Amém.
*Trecho da crônica “Oração de Um Homem Comum”, publicada no ebook “Das Coisas Simples, Sensatas e Sinceras”, publicado na Amazoncom, em julho de 2013.