Brasil está vazio
Na tarde de domingo, né?
Olha o sambão,
Aqui é o País do Futebol, pois é…
Lá pelos idos dos anos 70 Milton Nascimento e Fernando Brandt fizeram a canção “Aqui É o País do Futebol”, um misto de ironia e reverência aos tempos que vivíamos. Enfrentávamos os dias de arbítrio, de censura e medo, com a devoção e o amor do brasileiro pelo futebol.
Tantos e tantos anos depois, às vésperas de sediarmos a Copa do Mundo, ainda temos alma e gosto em cantar o Brasil como o País do Futebol?
Três episódios distintos chamaram a minha atenção no transcorrer da rodada do Brasileirão. Aconteceram ontem, na tarde de um ensolarado domingo de Primavera e de bola rolando.
Confiram, e tirem suas conclusões.
I.
A torcedora do Coritiba, de 13 anos, pede a camisa de Lucas, o craque sãopaulino, ao final da partida de ontem, na cidade de Curitiba. Quase é linchada por torcedores locais por admirar o jovem craque da seleção brasileira e do adversário de ontem do Coxa. Houve a pronta intervenção do pai da garota que devolveu a camisa ao boleiro e evitou que os ânimos se acirrassem ainda mais.
II.
O turista escocês, em visita a São Paulo, decide assistir a uma partida de futebol. Aproveit o domingão de sol para conhecer o Pacaembu, ver o Corinthians jogar e divertir-se. Errou na escolha da indumentária. Vestiu a camisa do Celtic, seu time de coração, que é verde, semelhante a do maior rival corintiano, o Palmeiras. O desavisado é hostilizado nas numeradas do estádio a ponto de a Polícia precisar entrar em ação. Como não consegue acalmar os torcedores, os policiais pedem para o escocês vestir o agasalho sobre o manto verde. Agiram com educação, mas o gringo sai mais do que assustado do estádio.
Não sabe se volta para o Mundial…
III.
No estádio dos Aflitos, em Pernambuco, o árbitro Leandro Pedro Vuadem decide, por conta e risco, não começar a partida do Náutico contra o Atlético-GO enquanto os torcedores continuarem exibindo, na arquibancada, com os seguintes dizeres:
NÃO IRÃO NOS DERRUBAR NO APITO.
Estendem-se as conversações entre dirigentes do Náutico, torcedores, policiais e o delegado CBF. Citam-se a legislação vigente, a liberdade de expressão, isso e aquilo. Argumentos não faltam para todos.
Dezesseis minutos depois, os torcedores cedem, abrem mão do protesto, chutam para o alto o direito de manifestar-se publicamente e a bola rola…
* Um adendo: o menino Lucas entregou a camisa à fã à saída do vestiário, quando a delegação do São Paulo se retirava do Couto Pereira. Foi um gesto nobre. No twitter, o craque pediu paz entre as torcidas. Ou seja, nem tudo está perdido…