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O PMDB de sempre

Na eleição municipal de 1985, acompanhávamos apreensivos a apuração dos votos para prefeito de São Paulo. O conservador Jânio Quadros liderava a contagem dos votos e, a cada urna, aumentava a diferença para o segundo colocado, então ‘progressista’ Fernando Henrique Cardoso, à época candidato do PMDB.

O Brasil acabara de sair de um arretado período ditatorial de 21 anos e a almejada democracia mal engatinhava. Um vitória do candidato “da direitona”, como chamávamos a candidatura do ex-presidente que renunciou e jogou o país no abismo, representaria um retrocesso injustificável.

Fazia sentido nossa apreensão.

II.

Explico.

Éramos jovens e sonhadores – e acreditávamos que saberíamos construir uma nação justa e igualitária. Estávamos naquela madrugada reunidos em um bar próximo a um diretório do PMDB que nos municiava de informações quentes sobre a apuração. Eu e o Escova (onde anda o amigo?) havíamos trabalhado o dia todo na cobertura da eleição e percebemos uma (in)certa tendência do eleitor
paulistano em votar no “Homem da Vassoura”.

Nossas pautas eram diferentes. Escova cobria as ocorrências policiais. Quase nenhuma, naquele dia. Já minha reportagem era um exercício de futurologia. Embicava para a expectativa de como seriam os primeiros dias de FHC como prefeito na opinião dos eleitores. Não lembro exatamente quem ficou com pauta equivalente em caso de vitória de Jânio, uma hipótese remotíssima.
[
III.

Naquela altura da noite, os números comprovavam a sensação ruim. “Remotíssima” seria a recuperação do meu personagem, o senador Fernando Henrique Cardoso.

Ficamos abatidos com a derrota.

“Minha matéria não vai sair da gaveta” – resmunguei ao amigo. “Sem chance de ser aproveitada”.

“Para o Brasil vai ser um desastre total” – retrucou o Escova.

Ao nosso redor, os filiados do PMDB – conhecíamos muitos deles – estavam igualmente abalados. Pareciam ansiosos. Ninguém em sã consciência imaginava uma derrota naquela altura da situação.

IV.

Foi mesmo um duro golpe.

O fracasso de FHC, que se configurou antes de amanhecer o dia, repercutiu negativamente em todo o país. Fortaleceu a ala mais conservadora do PMDB que logo se assenhoreou de parte significativa do Ministério do presidente José Sarney.

E, o resto da história, todos conhecemos…

V.

Essa historieta antiga tem se feito presente na minha lembrança. Volta à minha memória toda vez que ouço as tramoias que os próceres do partido se envolvem para encastelar-se do Poder e dele não abrir mão, nem a pau Juvenal.

Um fato marcou aquela noite.

Lá pelas tantas, alta madrugada, vitória de Jânio confirmada, chega ao grupo o presidente do diretório do partido, com sorriso de vitória.

E as boas novas (para eles):

“Tudo certo, companheiros. O deputado que nos representa já conversou com o Velho. Ele reconheceu que precisa de nosso apoio – e vamos continuar com a Regional da Prefeitura que nos cabe. Estamos no governo. Vamos comemorar a vitória, meus caros…”

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