Estou a imaginar se consigo escrever um texto assim, diria, atemporal. Para deixa-lo aqui, pronto, para qualquer eventualidade. Num dia em que, como hoje, os afazeres cotidianos me derrubarem, eu acessaria os arquivos e zum! Dava um recorte e cola e pronto. Meus caríssimos e minguantes leitores teriam o post nosso de cada dia. Missão cumprida, diria, então, a regozijar-me por mais essa jornada que se encerrou. A vida não é assim. Há de me alertar alguém aí, do outro lado da tela. Se não houver um novo texto nada se perderá. Escuto a voz da razão a dizer. Olha que a vida acontece na dimensão do horizonte que se vislumbra a partir da próxima curva. Ouvi certa vez de um amigo quando lhe disse que, no dia em que completei 50 anos, passei a escrever minha dissertação de mestrado. Ele lamentou que não aproveitei o aniversário para uma celebração inesquecível. Afinal, estava vivo, são e salvo e forte e ainda se projetava à minha frente um belíssimo horizonte de realizações. Respondi que, de alguma forma e diria até à minha maneira, foi mesmo uma festa concluir aquela jornada aos 50. Quantos têm esse privilégio? Ele sorriu um sorriso amigo e profetizou: qual o quê um dia eu aprenderia a me divertir de verdade. Entendi o que quis dizer. Mas, não sei se concordo. Aliás, sei, sim, não concordo. E tento explicar se leitor paciente me acompanhar nas próximas linhas que, prometo, serão breves. Tem sido o melhor dos mundos quando topo o desafio da tela em branco. A saltitarem na cabeça, os possíveis assuntos em pauta. Ou mesmo o vazio da falta de assunto. Por outra, os compromissos diários aceleram o girar dos ponteiros do relógio – porque sou das antigas, e meu relógio não é digital. Confesso a vocês que há um certo prazer lúdico de aqui estar e abrir o coração e a conversa. De alguma forma, enquanto eu escrevo e você me lê, somos senhores de nós mesmos e, melhor, refletimos sobre o imponderável que nos cerca. E como nos cerca! Para o bem ou para o mal…
Com efeito, missão cumprida, creio. Tenho acima um texto atemporal. Que, porém, não disse ao que veio. Não, inteiramente. Por um lado, cumpriu a tarefa do post de hoje, mesmo que em cima da hora. Por outra, desdisse sumariamente a primeira frase proposta. Ter uma pronta reserva para uma eventual ausência do degas aqui. Não é difícil concluir que a redação de um texto diário, para mim, é indispensável. Ao menos enquanto eu – como bem disse o amigo – não aprender a me divertir de verdade.
* Ah! Não me perguntem porque hoje não usei aspas ou travessão e escrevi em dois grande blocos — três, com este. Talvez porque é aborrecido demais ficar cuidando de alinhar as quebras do texto. Talvez porque não esteja para conversa. Além do que tive um dia daqueles!