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O preceptor

Posted on

30 de setembro.

Ops.

Aniversário do Waltinho.

Faria 80 anos.

Walter Garófalo, meu cunhado. Casado com a minha irmã Rosa.

“O genro que toda sogra sonha”, elogiava minha saudosa mãe, a Dona Yolanda.

Aldão, meu pai, também o admirava. Sabia que poderia contar com ele a qualquer hora.

Moço sério, arrimo de família – e bom de bola.

Jogava muito.

Lateral esquerdo do Santos do Cambuci, do Huracan da Várzea do Glicério e de outras agremiações amadoras.

Eu usava e abusava da condição de “cunhadinho chato”.

Assistia a todas as exibições do craque –  ainda por cima botava banca entre os moleques da rua Muniz de Souza e contava minhas prosas.

Imaginava jogar tanto quanto ele. Doce ilusão.

Só porque ele me ensinou a dar ‘carrinho’ na lateral do campo, ao estilo do Altair, do Fluminense e da seleção.

Tirava a bola do pontinha atrevido, com o bico da chuteira, levantava rápido e saía jogando:

“Cabeça erguida, Carlos” – assim que ele me chamava.

Importante: sem fazer falta, nem tocar no adversário.

A bem da verdade, o Waltinho foi o irmãozão que eu não tive.

Meu preceptor.

Deu altos toques para seguir a vida e entender a diferença entre o certo e o errado.

Quando eu tinha lá meus catorze, quinze anos, quis ter um papo sério.

Percebeu que andava de olho grande para as meninas.

Falou, falou, falou…

E eu na maior atenção.

“Respeito acima de tudo, entendeu?”

Até hoje não tenho certeza se entendi e consegui pôr em prática todos aqueles aconselhamentos.

Foi o Waltinho que me apresentou à então Velha Guarda da música popular brasileira. Orlando Silva, Pixinguinha, Ciro Monteiro (que ele dizia parecer com o meu avô Carlito), Dalva de Oliveira, Chico Alves, entre outros.

Mesmo com o meu inacabado viés de roqueiro, era prazeroso ouvir o programa Moraes Sarmento, na Rádio Bandeirantes, naquelas noites do mais antigo dos anos.

Ele cantava junto… Tinha boa voz. Sabia quase todas as letras.

Fazia comentários legais. Que me faziam vivenciar cada cena dos versos cantados.

Tu és divina e graciosa.

Estátua majestosa

Do amor

Por Deus esculturada

Uma escola. Inesquecíveis lições de vida e sentimento.

Depois dos 60, o Waltinho e a Rosa foram morar no Espírito Santo perto de um dos filhos, o Beto.

Perdemos um pouco de contato por causa da distância.

Sempre que nos encontrávamos, porém, era uma festa. Um tal de falar do Palmeiras, do futebol de várzea, a lembrar dolentes canções e as histórias e os personagens do nosso Cambuci velho de guerra.

Ele morreu em dezembro de 2014 – e, desde então, eu me sinto um bocadinho mais só.

Por isso, hoje, faço questão de repartir essa saudade com todos vocês.

Adivinhem qual sua música preferida?

 

 

 

1 Response
  • Leila Kiyomura
    30, setembro, 2019

    Seria Rosa, de Pixinguinha?

    Tu és divina e graciosa
    Estátua majestosa
    Do amor, por Deus esculturada
    E formada com ardor…

O que você acha?

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