Eu o havia visto na mesma ala onde eu embarcaria.
O homem de cabelo acaju tentava passar anônimo em meio à muvuca tão comum nos dias de hoje nos aeroportos brasileiros.
Tentava – e, posso ser sincero, conseguia além do que, desconfio, o próprio gostaria.
Poucos minutos antes, outro celebridade passou por ali: o cantor Luan Santana, com seu boné enviesado na cabeça. Foi um frisson. Mesmo àquela hora da manhã – em torno das 6 – causou certo tumulto no hall de entrada. Um grupo de jovens – meninas, em sua maioria – acompanhou os passos do cantor até o portão de embarque entre gritinhos e poses para as indefectíveis fotos ao lado do ídolo.
O garoto pacientemente atendia a todos – mesmo com risco de atrasar o voo.
O senhor ali, de quem lhes falei acima, já teve seus dias de glória. E agitação.
Na hora, não liguei lé com cré.
Apenas registrei o que os meus olhos flagraram.
Comecei a refletir sobre a questão quando o reencontrei no mesmo avião que me levou, dias atrás, a Recife. Ele estava no fundo aeronave, recostado à última poltrona, em meio à equipe de comissários de bordo.
Só rumou para o seu lugar quando todos estavam a bordo – e o comandante anunciou a decolagem.
(Diria que o tal não gostaria de ser molestado.)
Reparei que a viagem inteira ficou com o rosto voltado para a janela. Parecia viajar sozinho e – para a sua sorte, imagino – a poltrona ao lado permaneceu vaga.
À saída, foi o último a descer – mesmo sem carregar qualquer bagagem.
Esperou que o avião esvaziasse fingindo distrair-se com o folheto que traz as orientações para casos de acidente.
Que contraste, pensei.
Como artista, tem um jeito gaiato, brincalhão; mesmo que seu repertório se popularize pelas canções dor de cotovelo (para não dizer, dor de corno mesmo).
Difícil vê-lo assim solitário, taciturno.
Ninguém sequer se aproximou.
Muitos, como eu, o reconheceram, é claro.
Mas, não ousaram mesmo que um breve aceno.
Sinceramente, não sei dizer quem de nós se sentiu mais constrangido.
É o preço da fama, mesmo quando ela não mais existe.