VI.
Estavam acompanhados. Por isso, seguiram, com os respectivos grupos, mesmo sinalizando um próximo encontro.
— Eu ligo, disse ele, com a camisa do Flamengo.
— Te emeio, completou ela; a amiga já se mostrava impaciente com a demora do papo dos dois.
VII.
No minuto seguinte, Nando conferiu o número de Fabi na agenda do velho celular.
— Precisa trocar essa tranqueira, recomendou um amigo.
Estava tão feliz que nem escutou.
VIII.
Naquele mesmo dia, Nando ligou.
Ela foi bem receptiva.
Claro, iriam se ver, sim.
Foi o que reafirmou depois num breve email.
Quando?, teclou ele.
Pra semana, respondeu a moça.
Sem falta, animou-se o rapaz.
"Eu procuro vc."
Assim, Fabi finalizou a empolgante conversação.
IX.
Nesta terça pela manhã ou foi no início da tarde, ele abriu a telinha e incrédulo viu o nominho dela piscando entre as mensagens recebidas. Ficou feliz feito pinto no lixo. Quicou a resposta – “Quando?” – assim que leu as breves palavras.
— Seria uma boa um café depois do trabalho, aqui, por perto, nos Jardins.
No fim da noite, outro email com proposta irrecusável.
“Qualquer noite, menos quarta. Tenho um compromisso.”
X.
Melhor impossível.
Naquele dia quando se encontraram na tal praça de alimentação, ele acabara de se engajar na versão paulistana da Liga dos Urubus, união de flamenguistas e afins — por isso, a camisa rubro-negra — para secar o Fluminense na final da Taça Libertadores da América. Teria a noite livre, portanto, para ver a sensacional decisão.
Melhor impossível, repetiu para se convencer do milagre.
Teclou convicto:
“Na quinta, então.”
Um “ok” foi a resposta.
XI.
Bem, o resto da história vocês, meus caríssimos cinco ou seis leitores, podem imaginar.
Tirando a derrota do Nense, nada deu nada certo.
Talvez até por isso.
Na quarta-feira à noite, Nando pulou tanto nas comemorações pela vitória do LDU e nem percebeu que desapareceram as letras e os números do visor da tranqueira do celular.
Quando se deu conta, quase noite de quinta, dia do encontro, correu para uma dessas oficinas que consertam aparelhos.
Ouviu uma frase conhecida:
— Precisa trocar essa tranqueira, doutor.
Tarde demais, mas havia a internet.
X.
Havia.
No mesmo dia, deu pane nos equipamentos da Telefônica e milhares de paulistanos ficaram sem acesso à internet. Nando e Fabi, entre os desplugados.
Ela, marrenta que só, achou que seria bandeira demais correr para uma lan house.
Não quis dar esse “boi” a ele que, aliás, imaginou, bem que poderia ter ligado.
Enquanto isso, um Nando desesperado clamava na fila de espera da loja da Vivo no mesmo shopping em que ambos se encontraram dias antes.
— Se eu nunca mais encontrá-la, vou tascar um processo a Telefônica. Vou querer uma indenização milionária por perdas e danos.
Nando não sabia. Mas, desde garotinha, Fabi é fã de Renato Gaúcho…