Pareceu-me um homem de fino trato.
É certo que o paletó escuro lhe sobrava um tanto nos ombros e a gravata e o colarinho da camisa branca estavam em desalinho. O cabelo estava solidamente penteado à custa de muito gel.
Tinha nas mãos grosso volume, com capa de couro (poderia ser a Bíblia?) que consultou por minutos. Até que se pôs a bradar em alto e bom som em plena Praça Ramos de Azevedo.
Fez da escadaria do Teatro Municipal o seu palco.
A princípio, poucos lhe deram atenção. Mas, em minutos, havia ali, à sua frente, uma platéia de dezenas de pessoas, subjugada pelo delírio do pregador:
“Só os puros,
os idôneos,
os iluminados poderão
salvar o mundo.
Abaixo os tiranos…
Os déspotas…
Os caudilhos…
Os ditadores de plantão…
As forças opressoras…
Abaixo os ímpios…
Os sectários…
Os intolerantes…
Os insidiosos…
Os cafajestes…
Abaixo os perdulários…
Os corruptos…
Os usurpadores
Os fanáticos…
Os ingratos…
Abaixo os torturadores…
Os egocêntricos…
E todos aqueles que disseminam
a miséria, a ignorância
e o caos social…
Abaixo os chatos do stand up…
Os apresentadores de TV…
Os narradores esportivos…
Abaixo os teletubbies
E os twitteiros.”
E nada mais disse. Saiu entre vaias e aplausos. Levar sua mensagem a outros povos, em outras praças.
Fiquei tentado a subir a mesma escadaria em completar a lista, incluindo os pagodeiros, os breganejos e as cantoras axé.
Mas, me contive. Ainda não é hora de radicalizar.