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O professor e o presidente

"Se quiser conhecer verdadeiramente um homem. Dê-lhe autoridade."

01. Não lembro de que a situação tenha acontecido antes: o Museu do Ipiranga, com as portas fechadas para o público em função das greves de professores e funcionários das universidades públicas. Como o nosso Museu pertence à Universidade de São Paulo, nada mais justo que não abra à visitação…

02. Aliás, é emblemática a faixa que puseram à porta da instituição com o aviso da greve. O símbolo maior da nossa independência parece em sintonia com os reclamos populares que pipocam por todo o País — caminhoneiros, o MST e agora os médicos de São Paulo, entre outros movimentos menos cotados. Mas que, de uma forma ou de outra, dão conta do descontentamento geral e crescente em relação ao Governo FHC.

03. Às vezes, custo a crer que o presidente Fernando Henrique é aquele mesmo professor e sociólogo tido como referência na Universidade de São Paulo do início dos anos 70, quando eu era estudante e ele estava exilado por sua postura em prol da causa pública. Enfrentou, com coragem, os rigores implacáveis da ditadura; transformou-se num mito para nós e para os professores que aqui ficaram.

04. Custo a crer mesmo que FHC seja aquele mesmo candidato a senador que, em 78, andou pelo Ipiranga ao lado das atrizes Regina Duarte e Bruna Lombardi, com idéias progressistas que apoiavam-se num País democrata e socialmente mais justo, onde todos os brasileiros teriam voz e vez… Falava com entusiasmo dos movimentos grevistas do ABC e tinha bons elogios para um líder sindical que então surgia chamado Luiz Inácio da Silva, o Lula…

05. Já em 85, o então candidato a prefeito de São Paulo visitou a Redação de Gazeta do Ipiranga na manhã de um sábado ensolarado. E falou com veemência da necessidade de se vencer as forças da Direita conservadora, toda ela concentrada no apoio à candidatura do ex-presidente Jânio Quadros. FHC era tido como um político moderno, honesto e competente…

06. Mesmo com a derrota em São Paulo a carreira política de FHC prosseguiu com êxito. Foi eleito senador, ocupou a pasta de ministro da Fazenda, apostou no Plano Real e sagrou-se presidente; diga-se o primeiro presidente reeleito do Brasil.

07. Uma bela carreira, sem dúvida. Pena que para alçar tamanhos vôos o homem teve que abrir mão das propostas iniciais; e claramente mais meritórias. Fico aqui imaginando se FHC ainda fosse professor da USP, estaria em greve ou preferiria abrir as portas do Museu sozinho por apostar nos discursos sempre brilhantes (embora ocos de realidade) do atual FHC presidente? Tenho para mim que o professor radicalizaria e pediria o Impeachment do presidente por vender o País aos interesses internacionais. Já o presidente tentaria isolar o professor por considerá-lo um incurável fracassomaníaco.