Foto: Reprodução/Divulgação
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Lá no mais antigo dos anos, trabalhei em uma revista que se chamava Afinal.
Tinha a pretensão de enfrentar a Veja e, para tanto, contratou os melhores jornalistas do mercado.
Como as coisas não saíram como o desejado, os salários começaram a atrasar – e boa parcela desse pessoal saiu.
Foi nessa hora que eu cheguei – ou seja, não estava entre os melhores, mas corria atrás.
Queria escrever.
E foi uma porta que se abriu.
Certa tarde, cheguei à redação ali, na rua Maria Antônia, e o editor de Cultura me passou a seguinte pauta:
– Você (eu) tem duas páginas para falar da obra do escritor argentino Jorge Luis Borges, que acaba de morrer.
Não havia o Google.
Ele, então, me entregou duas pastas enormes com recortes sobre o autor.
Mãos à obra.
Varri com os olhos aqueles grossos calhamaços. Risquei alguns trechos. Fiz uma lista de perguntas a serem feitas. Liguei para dois ou três críticos de literatura — e, de madrugada, comecei a fazer o texto que ficou legal, está no meu primeiro livro.
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Descobri que Borges era genial.
Um frasista, de primeira.
Por meio de seus pensamentos e escritos, definia a vida e o viver.
Um deles me é inesquecível:
“A gente pode tudo nessa vida. Só não pode é se fazer infeliz.”
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Lembrei ontem a frase que aprendi com Borges.
O Blog reluta em meter sua colher de pau no encalombado angu da política brasileira.
No entanto, um bom amigo me pediu para avaliar a entrada do tal Justiceiro de Curitiba na corrida presidencial.
“Os jornais e os telejornais só falam no homem.”
O que eu acho?
Acho sinceramente que todos perderemos se insistirmos em acreditar em capitães do mato, farsantes e salvadores da pátria.
Mas, como bem alertou Borges, o poeta cego que enxergava a vida pelos olhos da esposa Maria Kodama, a gente pode tudo nessa vida. Só não pode…
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* Ainda hoje tenho Livro dos Sonhos, de Borges, sempre à mão como oráculo luminoso.
O que você acha?