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O que faltou dizer

O texto de ontem na verdade dediquei ao amigo Jorge Tarquini. Mas, creio, ficou implícito também a homenagem ao protagonista de toda cena, o Almeidinha, típico jornalista que parece não ter virado o século XXI. Claro que a homenagem é extensiva a toda uma cepa de profissionais de imprensa com os quais convivi ao longo dos meus 33 anos de carreira.Como há alguns anos estou afastado do dia-a-dia das redações, não sei se sobrevive algum exemplar desta espécie em extinção.

Teimo em dizer que sim.

Mesmo que esteja em andamento o processo de juvenilização do jornalismo, sempre existirá um ou outro desses renitentes periodistas.

E quem é o tal?

É aquele cara que vive para o jornal em que trabalha as 24 horas por dia. Não tem hora para entrar, menos ainda para sair. Para ele, não há vida inteligente fora do aquário – como chamavam a saleta do editor – ou da Redação. Só tem amigos jornalistas, só fala de jornalismo. Está sempre ligado no que pode se transformar em notícia.

Se as coisas vão bem, já se preocupa em como fará para que a peteca não caia na próxima edição. Se há qualquer senão com o jornal do dia, meu Deus, fica transtornado e transtorna a todos que estão ao seu redor.

São ótimas pessoas. Mas, às vezes, quase sempre, é preciso muita paciência para conviver com ele. Parece que nunca está satisfeito. Na verdade, está é preocupado com o repórter que não chega com a matéria que vai dar manchete. Que as fotos não têm impacto. Que o colunista ainda não mandou o texto. Essas coisas corriqueiras na grande maluquice que é fazer um jornal diário.

Nos tempos do chamado jornalismo romântico, era esse cara que esperava o jornal do dia rodar. Dava uma sapeada em todas as páginas. Dobrava o jornal em quatro, colocava debaixo do braço e deixava lhe invadir uma enorme satisfação do dever cumprido.

Encontrava os amigos no boteco de sempre. Tomava uns tragos, jogava conversa fora a ironizar a tudo e a todos. Prometia se aposentar no próximo ano, iria criar galinhas numa chacrinha que tinha numa cidadezinha do interior.

Ninguém acreditava. Nem ele. Mas era delicioso ouvi-lo dizer. Uma espécie de senha para que a roda se dispersasse. Pois, amanhã – ou hoje – seria um novo dia e o Almeidinha queria todos a postos e no horário…

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