UMA NOVELA BLOGUEIRA – (Fotos: 1 – Arquivo Pessoal 2 – Leila Cunha)
Algumas considerações finais que julgo se fazem jornalisticamente necessárias.
Esclareço que, em tempos pandêmicos como os que hoje vivemos, lancei mão das chamadas redes sociais para a atualização das informações que ora se seguem.
Sem risco, portanto, de minha parte, de quebra do distanciamento social.
1 –
O romance de Lucilinda e o Sr. Camargo não foi adiante.
Era previsível.
Lúcio Mauro, o irmão caçula, um desastre como manobrista.
Deu muitos prejuízos.
Camargo vendeu a rede de estacionamentos e voltou a morar com a família em Campos Novos Paulistas.
Sossegou o facho.
Afinal, a idade chega para todos.
2 –
Lucilinda foi trabalhar com vendas de imóveis, como bem vimos no episódio que abre a Parte 3.
Hoje é proprietária de uma afamada corretora em São Paulo, nos Jardins.
Nada conseguimos apurar sobre sua vida pessoal.
É discretíssima.
3 –
Desde a chegada de Carlos Artúlio, a Pousada do Morro Torto passou a ser o point de encontro de artistas, jornalistas e intelectuais nas férias ou em fins de semanas prolongados. Celebravam até altas horas entre discursos políticos, encenações de pequenos esquetes, cantoria e bebida.
Alguns namoricos, também.
Um desses convivas – há uma discordância quanto ao verdadeiro autor – propôs que (“já que todos os morros têm lá sua curvatura, pois se fossem retos seriam pirâmides e não morros) o lugar passasse a se chamar Pousada Estrela dos Boêmios a partir daquela madrugada. No que foi jubilosamente aplaudido por todos os presentes.
O antigo proprietário, o Sr. Talarico, não se opôs.
Na verdade, ele já estava pensando em, inspirado no dolce far niente do Ator, cair fora da trabalheira que a empreitada lhe dava.
Os novos donos – entre eles, o Ator -, adoraram a denominação, e assim ficou.
4 –
O Fuscão 71, Felisberto aposentou há coisa de quatro ou cinco anos.
Rendeu-se à moda e ao conforto das SUVs 4×4 que, diga-se, aumentou significativamente o faturamento da sua MEI.
Felisberto é hoje um bem-sucedido microempreendedor individual no ramo dos transportes.
5 –
Em determinadas datas comemorativas do ano (Dia da Criança, Natal, Cosme/Damião), Carlos Artúlio produz um breve espetáculo de magia e diversão para as crianças de toda a região. Arma uma tenda de lona no terreno à entrada da pousada – e faz a festa. Com distribuições de doces, refrescos e brinquedos para a garotada.
Desde então, ganhou o apelido de Tio Carlos.
Acha carinhoso.
Sente-se, de algum modo, confortado pelo fato de não ter filhos.
Não quis ou não pôde?
Nenhum comentário a respeito. Nunca, nem pra ele mesmo.
6 –
Ano passado, não sei exatamente em que mês, o Ator e o Filósofo celebraram 20 anos de grande amizade.
Uma festança!
Teve até fogos de artifícios, o que não é comum e recomendável por aqueles lados.
7 –
A propósito, havia entre os convidados especiais uma jovem e bonita senhora, a quem o Ator chamava carinhosamente de Dulcineia, a Indiana.
Fontes seguras me informam que ela mora no Templo Budista que existe nas mais altas montanhas da Serra da Bocaina entre os municípios de Barreiros, Formoso e Arapeí.
Dizem que possui um grau de espiritualidade elevado, é uma sacerdotisa.
O Ator, por vezes, a chama de Deusa Hindu, Princesa Moura, Rainha de Sabah.
Gosta de inventar. Nunca diz o nome verdadeiro.
Aliás, ele fica cheio de salamaleques quando fica perto dela.
Vez ou outra, a dona passa uns dias na Pousada Estrela dos Boêmios.
De quando em quando, é o Ator que vai visitá-la.
Dizem que é bonito por demais ver os dois juntos.
Enquanto ela medita, ele se aplica no tai chi chuan, e vice e versa.
(Mas, não só. Se é que me entendem…)
8 –
Quanto ao nosso Felisberto, continua o menino crescido. Aprendeu a ser algo dissimulado com a idade, creio. Mesmo que, para muitos, ainda exale o tal odor de inocência e santidade.
Toda vez que tem um carreto lá para os lados de São José dos Campos, Caçapava e Taubaté, ai, ai, ai… Fecha a agenda por dois ou três dias. Perfuma-se todo, calça as botas novas de legítimo couro de cobra, apruma o chapelão e vai que vai… Para algum lugar trépido, incerto e não sabido!
Volta todo-todo!
9 –
Os dois continuam por lá…
E eu, juro, depois que tudo isso passar, também arredo o pé pra Bocaina.
Aquilo é que é vida, sô!
Pedro P. Avezzani,
o Italiano
…
…
VERONICA PATRICIA ARAVENA CORTES
5, junho, 2020Rodolfo, teu livro me levou ao cerne da vida, ao que faz a vida valer a pena, qualquer que seja a sua forma, cor ou maneira, aquilo que faz a gente escalar a montanha ou descer aos ínferos, perder a fome e o sono em qualquer de suas versões. Nos leva a sair do comezinho, a nos perdermos de nós mesmos para nos encontrarmos em outro ponto de outra maneira, assusta. Aceitá-lo é um fim e um começo, é o caminho certo para o incerto, mas ficar na margem da certeza junto ao medo também é um fim. A vereda da saudade do não vivido é triste quando nunca se atravessa a ponte. Por sorte, diversas são as chances para ouvir o seu chamado, maior sorte é daquele que se prepara para vivê-lo. Desculpa demorar tanto pra terminar. Brigadão pela história, foi bom voltar ao amor.
PS: Adoro a história de amor de Shiva com sua primeira mulher.