27ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo no Anhembi. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
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Tem dias que me sinto assim. Como se fosse o protagonista daquele verso de Drummond:
“Perdi o bonde e a esperança”.
O triste é que esta sensação de fragorosa derrota tem sido nos imposta de forma recorrente, cotidiana.
Basta ver o que nos reserva o noticiário do dia,
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Nos idos da velha redação de piso assoalhado e grandes janelões para a rua Bom Pastor, tínhamos um ranking das desilusões, digamos, cívicas e sociais que havíamos vivenciados.
Era motivo de acaloradas discussões.
Quando lá cheguei, os tops da desesperança eram a renúncia de Jânio Quadros (1961) e a queda de Jango para a implantação do Golpe Militar (1964).
Entre a velha-guarda – Nasci, o Marcão e o Zé Jofre – não havia grande polêmica.
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Certa tarde, meu saudoso pai foi nos visitar e também fez questão de dar pitaco na exdrúxula enquete.
Escolheu o suicídio de Getúlio (agosto de 1954).
Deu um bom debate que se prolongou e invadiu, noite adentro, o Bar do Arlindo.
Fiquei na redação, fechando o jornal da semana. Não sei qual foi a conclusão da celeuma .
Quando cheguei para resgatar o Velho Aldo, a turma entoava um velho bolero – “Besame Mucho”, se não me engano – a lembrar outras desventuras em campos distintos.
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Lá pelos anos 90, a tradição do ranking foi preservada.
Entre os novos habitantes do nosso tablado, pontuavam a rejeição da emenda Dante Oliveira que não passou pelo Congresso mesmo com todas as manifestações pelas Diretas Já (1984) e a tragédia de Tancredo Neves, horas antes de ser empossado presidente da República (1985).
Ciente do retrocesso que viria a partir daí, votei na vitória de Jânio Quadros na eleição municipal em São Paulo, em 85, meses depois do fim da ditadura no País.
A direita dava sinal de continuar viva, ativa e engrossava as fileiras inclusive do PMDB, o monstro, sigla do candidato derrotado e traído, senador Fernando Henrique Cardoso.
Para os então petistas da redação – Saliba, Regina, Odair, entre outros –, a vitória de Collor (1989) era a derrocada de qualquer avanço social.
O homem seria uma catástrofe na Presidência.
Dito e feito.
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Lá se vão quase 35 anos…
Meus amigos – alguns – já se foram. Outros andam pela aí, mundo afora. Raros dão notícias de quando em quando.
Enfim…
O Brasil continua se arrastando.
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Desisti de, toda vez que há uma destemperança, atualizar ainda que mental e solitariamente o tal ranking.
Serei sincero, ainda me dói a alma, lembrar o circo de horrores de 17 de abril de 2016 quando a Câmara votou pelo impeachment de Dilma. Uma vergonha que se espalhou mundo afora e nos reduziu a pó, como Nação.
Ali perpetrou-se, creio, o caminho sem volta.
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Recebo no grupo de amigos do zap, o link para reportagem da Folha de S.Paulo:
Marçal defende banir das escolas livros que ‘deturpem ideologia’ e ouve coro de ‘mito’ na Bienal
Leio o texto, com algum espanto, mas zero surpresa.
Cá comigo, volto a invocar o velho costume – e penso se tais cenas poderiam figurar, com algum destaque, no Top-10 das desilusões.
Pior, meus caros, não há trilha sonora que me console ou resgate qualquer laivo de esperança.
Caminho sem volta, amigos.
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O que você acha?