Desculpe o mau jeito, caro leitor.
Mas, quero lhe fazer uma pergunta:
Como você se sentiu ao ver aqueles senhores do TSE votando pela não cassação da chapa Dilma/Temer?
Tive uma sensação ruim. Muito ruim.
Um profundo desalento.
Um desacreditar imensurável em relação ao futuro do País e às nossas instituições.
Me senti dentro do verso de Drummond:
“Perdi o bonde e a esperança”.
O triste é que esta sensação de fragorosa derrota tem sido nos imposta de forma recorrente, cotidiana.
Não há mais em quem acreditar.
Deus nos livre de Gilmares, Michels e apaniguados.
(…)
Nos idos da velha redação de piso assoalhado e grandes janelões para a rua Bom Pastor, tínhamos um ranking das desilusões, digamos, cívicas e sociais que havíamos vivenciados.
Era motivo de tantas e tamanhas discussões.
Quando lá cheguei, os tops da desesperança eram a renúncia de Jânio Quadros (1961) e a queda de Jango para a implantação do Golpe Militar (1964).
Entre a velha-guarda – Nasci, o Marcão e o Zé Jofre – não havia grande polêmica.
Certa tarde, o pai foi nos visitar e também fez questão dar pitaco na enquete.
Escolheu o suicídio de Getúlio.
Deu um debate acalorado que se prolongou e invadiu, noite adentro, o Bar do Arlindo.
Fiquei na redação, fechando o jornal da semana. Não sei a que conclusão chegaram. Mas, quando cheguei para resgatar o pai, a turma entoava um velho bolero – “Besame Mucho”, se não me engano – a lembrar outras desventuras em campos distintos.
(..)
Lá pelos anos 90, a tradição do ranking foi preservada.
Entre os novos habitantes do tablado, pontuavam a rejeição da emenda Dante Oliveira que não passou pelo Congresso mesmo com todas as manifestações pelas Diretas Já e a tragédia de
Tancredo Neves, horas antes de ser empossado presidente da República.
Ciente do retrocesso que viria a partir daí, votei na vitória de Jânio Quadros na eleição municipal em São Paulo, em 85, meses depois do fim da ditadura no País. A direita dava sinal de continuar viva, ativa e engrossava as fileiras inclusive do PMDB, o monstro, sigla do candidato derrotado e traído, senador Fernando Henrique Cardoso.
Para os então petistas da redação – Saliba, Regina, Odair, entre outros –, a vitória de Collor era a derrocada de qualquer avanço social. O homem seria uma catástrofe na Presidência.
Dito e feito.
(…)
Lá se vão quase 30 anos…
Mal encontro os amigos daqueles idos.
O Brasil continua se arrastando.
Toda vez que há um desconcerto como o de ontem, tento atualizar ainda que mental e solitariamente o tal ranking.
Por enquanto, está ganhando o circo de horrores de 17 de abril de 2016 quando a Câmara votou pelo impeachment de Dilma. Uma vergonha que se espalhou mundo afora e nos reduziu a pó, como Nação.
Mas, confesso, a sessão de ontem do TSE e os votos de Gilmar & Cia estão entre os Top-10. Pior: não há trilha sonora que nos console ou resgate qualquer laivo de esperança…