Hum…
Desconfio que nunca tenha ficado tanto tempo sem dar as caras (e a alma) por aqui nesses quase nove anos de insano blogar.
Humildemente peço, aos meus cinco ou seis leitores, que perdoem a ausência que foi motivada por causas várias, e inadiáveis; desde viagens para cumprir compromissos profissionais, outra para rever um velho amigo (o Nestor, do último post) até à redação final de um novo projeto pedagógico para o curso de jornalismo, aqui, da Universidade Metodista.
Prometo retomar a rotina dos nossos encontros e, sem mais desculpas e delongas, tomo a liberdade para postar o depoimento de outro amigo, o Escova, conhecido em tempos tidos e havidos como o Dom Juan das Quebradas do Sacomã.
II.
Escova, que aliás vocês bem conhecem, me encaminhou um texto que ele gostaria de ver publicado no blog. É uma resposta a alguém que ele preferiu não dizer. Mas, que aí tem coisa, não duvido…
Eu desconfio que alguém (alguma mulher, clara) lhe perguntou se ele se sentia só, se valeu à pena viver da forma que viveu e coisicas do gênero.
Vocês sabem, tenho amigos sensíveis, senhores de outras épocas, quando a vida acontecia na mesa dos bares, na calada da madrugada, no baticum da máquina de escrever (para nós, jornalistas) e nos amores que iam e vinham com a fluência dos dias e das noites.
III.
Com a palavra o Escova e a sua pensata, quase um desabafo:
“Penso que a idade nos traz a sabedoria de entender o tempo que o tempo de as coisas acontecerem tem e, de alguma forma, o quanto é vão nos iludirmos que somos, fazemos e acontecemos.
Depois do depois, no tempo da delicadeza no dizer do poeta Chico Buarque, é possível compreender que a vida se dá exata e unicamente naquele santificado momento que se vive. Num estalar de dedos.
Todo o resto, todos os arredores, o antes e o depois, são projeções de algo que pode ou não acontecer (na maior parte das vezes, não acontece) ou, numa instância nostálgica, se transformam em lembranças.
De boa, não gosto do mundo virtual – e o que faz com as pessoas. Essa dimensão as torna frágeis personagens delas mesmas. Muitas já nem sabem quem são. Se são elas próprias ou as personagens nonsenses que encarnam.
Por outro lado, e mais suavemente, gosto do mundo virtual, pois nos permite encontros e reencontros que, por si só e só por si, seriam humanamente inimagináveis.
Ensina outro poeta, Caetano Veloso:
“Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”.
Alerto, porém: cada delícia traz em si, embutida, uma grande encrenca.
Como já não tenho a leveza de outros tempos para entrar e sair das ‘paradinhas’ de outrora, evito a primeira para não enfrentar a segunda.
Sinto falta de algumas coisiquinhas, reconheço. Mas as ‘pipas’ de hoje compensam qualquer ausência.
A propósito, não me sinto só.
Não tenho tempo pra isso.
Nem posso reclamar de tudo o que vivi.”