O cronista anda embasbacado em meio a cegueira geral.
Indignado. Tristemente indignado.
Nunca imaginou viver tamanho retrocesso.
Grave, gravíssimo o que hoje vivemos.
As urnas ameaçam a democracia.
II.
Simples assim?
Não.
A tragédia que ora se anuncia vem sendo costurada há alguns anos pelos Donos do Poder.
A partir de 2013, talvez?
2015, e avalanche de protestos que clamaram, com a conivência de diversos setores da sociedade – a chamada Grande Imprensa, inclusive -, o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
2016, certamente.
O Golpe – e a sumária construção do estado de exceção. Ao arrepio de um conhecido slogan fascista:
“Para os amigos, tudo. Para os inimigos, apenas a Lei.”
III.
Assim, de etapa em etapa – sempre com a cumplicidade de coleguinhas engravatados nas redações, sequiosos em cumprir o que o patrão mandar –, chegamos onde chegamos.
Respeitáveis vozes em todo o mundo tentam nos alertar para os riscos que corremos. Que o passo em falso pode nos legar um irreversível comprometimento dos pilares de uma Nação que se pretenda democrática e contemporânea. Serão décadas e décadas para reparar o mal que hoje causaremos ao país e às novas gerações.
IV.
“Não é bem assim” – me diz um querido amigo. Na verdade, não apenas um. Mas, ouço o mesmo bordão de muitos. Ora indiferentes ora estupidamente eufóricos.
Há os se dizem neutros.
– Não vou votar em ninguém.
Como se fosse possível nesta hora?
Outros exalam ódio, intolerância. Imaginam se espelhar no tal “mito” – e não aceitam qualquer outro argumento que não seja aquele que querem e estão dispostos a ouvir.
“Deixe de ser exagerado” – alertam. “Precisamos de alguém, com autoridade, que ponha a casa em ordem.”
Ou seja, entregam a senha para que o lobo (agora em pele de cordeiro) “faça o que tiver que ser feito”.
V.
É este embotamento intelectual, este intumescimento da razão, o que mais me assusta. Talvez seja nosso maior legado às gerações vindouras.
É triste dizer, mas vou dizer, o jornalismo de lindinhos e lindinhas que hoje se pratica, bem em sintonia com interesses escusos do patronato, tem muito a ver com isso.
Sei que no dia seguinte à eleição de 28 de outubro, muitas empresas jornalísticas vão para a Oposição. É praxe. Lembram o exemplo da eleição do Collor?
Pois então…
Aí já será tarde demais.
VI.
Exceções que fazem a regra.
Duas sugestões de leituras:
Marcelo Coelho, na Folha de Hoje
Francisco de Assis, no jornal português Público, no dia 11
VII.
Um tributo ainda que tardio, em reverência a Ângela Maria.
Por sua arte inigualável.
Por nos oferecer a trilha sonora desses dias tristes.
VIII.
Ilustração de André Stefanini, na Folha de hoje
O que você acha?