O Tio Carlos é legal.
Tava pensando, agora que ele foi embora.
Ele é engraçado. Poucas vezes, eu o encontro, porque ele trabalha bastante. Mas, quando ele vem visitar a gente, é show de bola porque fica contando histórias e mais histórias que nem sei de onde o Tio Carlos tira.
Aí, as pessoas que ouvem ficam com uma cara de assustadas, como se tivessem visto um dos monstros daqueles desenhos japoneses. Ele ri que ri e depois fala que não foi com ele que aconteceu, não. Foi com um amigo do amigo do amigo. Aí, todos ficam desconfiados e ninguém sabe se é verdade ou mentira. Se foi com ele que aconteceu ou se não foi. Se ele inventou ou tirou de algum livro ou de um filme.
Eu perguntei por que ele faz assim. Conta a história como se tivesse acontecido com ele e depois desmente, ou quase.
O Tio Carlos me disse que era um segredo, mas ia me dizer por que gosta de mim.
— Assim as pessoas nunca sabem se eu sou eu ou se eu sou o que as minhas histórias contam. Gente grande gosta de dizer como os outros devem viver. E não cuidam do que fazem. Ademais, a vida às vezes precisa de um tiquinho de poesia pra ganhar cor e sentido.
Não entendi bem, mas sei que eu tenho um amigo, o Torquato, lá no colégio e o apelido dele é Tiquinho, mas ele nunca me disse que era poeta.