Os jornalistas perderam a capacidade de indignar-se diante das atrocidades que se comete e denigre o bem comum.
Trata-se de uma das visões que mais lamento ver no caleidoscópio de tristezas que hoje nos abate e deprime.
Sei, sei, as generalizações são – e serão – sempre difusas.
Exceções sempre haverá.
Que me perdoem, pois
Os profissionais verdadeiramente combativos – que, de alguma forma, labutam por um Brasil de todos os brasileiros – são raros, preciosos e só confirmam a bendita regra supracitada.
Lamento, porém, quase não os vejo nos grandes veículos noticiosos.
Por que será?
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No barulho das horas, estou nesta lida há mais de quatro décadas. Sempre me orgulhei da profissão que exerço: a de alinhavar uma letrinha atrás da outra, atrás da outra…
A de ser o tal historiador do cotidiano.
O mediador das demandas sociais.
Duas das expressões que cunhavam e davam norte ao que entendíamos ser a função da Imprensa acima de toda e qualquer suspeita.
Era comum que os barões-senhores das redações vacilassem diante dos desafios do fazer jornalístico. Mas a patuleia de repórteres, fotógrafos, redatores e editores – estes, sim, os enfrentavam e traziam, a cada matéria, em cada publicação, a utopia de um mundo melhor.
Era o mote.
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Hoje, temo, perdemos o foco. Do pensamento público e das causas cidadãs.
“Manda quem pode. Obedece quem tem juízo” – me diz o amigo de meia-idade, um dos raros sobreviventes “ainda” na ativa. “As redações estão cada vez mais enxutas”.
Entendo.
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Jornalista, agora, tem cliente.
“O caminho é empreender, professor – é a vez da moça, oito/nove anos de formada a quem dei aula de Crítica da Mídia nos idos que – eu e ela – perambulávamos pela Universidade.
Hãhã.
Não tenho como lhe desdizer.
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“O mundo é digital. Informação e entretenimento se confundem. É tudo uma coisa só na internet. Assim que hoje é. Concorda?”
Quem sou eu para tanto, meu jovem interlocutor do Whats, estudante de jornalismo, prestes a iniciar o sétimo semestre, é isso, não?
Me pede uma indicação para tema do amado e esperado Trabalho de Conclusão de Curso.
…
Prefiro lhe indicar o livro A Regra do Jogo, do jornalista Cláudio Abramo. Uma leitura, entendo, fundamental para todos os que se imaginam trabalhar com Jornalismo.
Abramo é uma referência para a minha geração – e nos legou valores sólidos e perenes que, entendo também, transcendem a profissão.
“A ética do jornalista é a mesma do cidadão. Não existe duas.”
Que tal?
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Acho que não se animou.
Tento outra, esta de minha lavra, mas inspirado no Mestre:
“Jornalismo é caráter.”
Responde que vai pensar…
(Este meu desalento está foda!)
O que você acha?