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O tobogã e nós…

Foto: Reprodução do Whatsapp

Já era um senhorzinho quando apareceu por aqui o tal de tobogã.

Quem se lembra?

Existe ainda?

Sei não…

Não importa.

Abro um parentese para outra lembrança.

Àquela época, eu tinha uma camiseta cinza com essa inscrição:

Não importa

– e achava o máximo.

Tinha resposta para tudo o que me perguntavam.

Caso o chatonildo da vez questionasse algo que eu não queria ou não sabia responder, deixava que o silêncio e a frase falassem por mim.

Fecho o parentese.

Voltemos à imagem do tobogã.

Aquele mastodôntico escorregador em que o sujeito precisa subir dezenas e dezenas de degraus para lá de cima despencar por livre e espontânea vontade. a bordo de um saco de estopa ou coisa que o valha, rampa abaixo sem freio nem arreio.

Vai que vai.

Dizem – ou diziam – que era adrenalina pura.

Mais fim de século 20, impossível.

Ok.

Confesso.

Entrei nessa roubada certa vez, no estacionamento de um shopping em SP, com a esfarrapada desculpa de acompanhar meu filho que era garoto.

Só fui dar ciência do ridículo da coisa toda, lá em cima. No alto da plataforma.

Tarde demais.

Controlei o acesso de pânico.

Enfrentei a descida, com o pingo de dignidade que me restou e um sorriso apalermado que ainda hoje trago comigo.

Um trauma.

No entanto, preciso lhes dizer: nada foi em vão.

Tirei substancioso ensinamento da inenarrável experiência.

A saber:

Quase tudo em nossa humilde existência que são bem similares à arte de sacolejar nos tobogãs da vida.

Se o incauto cidadão se dá ao trabalho de subir, um a um, degrau por degrau, a bendita plataforma, convenhamos, quando o dito-cujo chegar lá em cima, tem mais que assumir os riscos e abalar-se rampa abaixo.

Desconfio que seja a suprema humilhação, depois de toda a trabalheira da subida, pedir arreglo assim que se pisa no tatame da plataforma.

Imaginem a cena:

Você parado no topo do brinquedo, com o saco de estopa na mão, olhando pra baixo, fingindo que não é a sua vez, empacando outros aventureiros atrás de você, pensando numa boa desculpa pra escapar…

Sem noção, não?

Mudo de assunto, mas insisto na analogia.

E eu que pensei de ter visto tudo nessa minha longa estrada da vida….

Danei a escrever hoje sobre essas bestagens porque não atino com essas encrencas que se arvoram donos desse imenso tobogã chamado Brasil.

Perderam a noção.

Hostilizam quem não lhes é comum.

Difundem o ódio, a violência…

Vaiam a seleção apesar de se apoderarem da ‘amarelinha’.

E, agora, empacam diante dos quartéis em manifestações que clamam por intervenção militar.

Pedem o fim da democracia.

E da civilidade.

Minha reverência a Gilberto Gil, um dos símbolos do Brasil com o qual sonhamos.

De resto, amigos e leitores, decididamente

NÃO IMPORTA

E viva a diversidade e o amor fraterno!

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