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O trombetear da CNI

01. Representantes da Confederação Nacional da Indústria encontraram-se ontem com o presidente Fernando Henrique Cardoso. Foram manifestar suas preocupações diante do atual quadro político-social de amplo desgaste do Governo e — lamentaram muito dizer — do próprio presidente. Reclamaram da falta de firmeza do Palácio do Planalto e do frágil entendimento entre Legislativo e Executivo para votação das reformas que anunciam como de caráter de "urgência urgentíssima". A CNI revela-se preocupada até mesmo com o futuro do Plano Real, "a grande proeza deste Governo", conquista que pode acabar se perdendo caso a equipe econômica não tome tento de que fomentar o arrocho e o desemprego significa abrir mão do que chamamos desenvolvimento.

02. Aliás, as recentes manifestações de hostilidade nas viagens presidenciais acabaram por reverter o quadro de aceitação popular de FHC, conforme trombeteavam os institutos de pesquisas. O que os noticiários de TV mostravam e a gente ouvia nas ruas não batia com os números dos ibopes da vida. Espera-se agora por medidas. A primeira delas já foi tomada: reforçar o esquema de segurança presidencial. Tomara que os homens de Brasília não fiquem apenas nisso e passem também a dar ouvidos à rouca voz das ruas. Há tempos a propagar que os problemas se avolumam enquanto as soluções rareiam…

03. Esta semana exemplifica, com clareza, essa realidade. Bem que o Governo poderia comemorar, com pompas e circunstâncias, a tranqüila vitória que a emenda da reeleição obteve no Senado, aprovada por 63 votos contra 6, em votação de primeiro turno. No entanto, a repercussão das denúncias do Senhor X, envolvendo compra de votos na votação da mesma emenda na Câmara Federal, absorveu todas as manchetes. Respingou até para o ministro Sérgio Motta e ficou ainda pior quando os dois principais acusados, os deputados Ronivon Santiago e João Maia (PFL do Acre), renunciaram a seus mandatos na quarta-feira. Fugiram ao processo de cassação parlamentar e preservaram a possibilidade de candidatar-se em 98, pois não perderam seus direitos políticos. A mesa diretora da Câmara demorou a dar início ao processo contra os dois, exibindo mais uma vez o marcante traço do corporativismo. Que está sempre a preservar nossos parlamentares e a punir implacavelmente nossa gente.

NR: Mais um confronto entre PMs e invasores de um conjunto habitacional em Sapopemba, bairro da zona leste paulistana. Cenas que o País prefere não mais presenciar. Pois bem sabe como terminam. Três brasileiros anônimos morreram por lutar por uma vida melhor. Será que essa é a melhor forma de luta? Quem é culpado, quem é inocente… Nunca se chega a qualquer conclusão. Melhor seria que se evitasse novas tragédias…

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