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Olhos nos olhos (2)

Gosto do jeito simples e direto que o amigo Nicola tem para esclarecer esses impasses existenciais. Desconfio que, mais do que os livros e a ciência que estuda e desenvolve, ele se espelha nas experiências de vida que recolhe ora na penumbra do consultório (há quem diga que é à meia-luz que as pessoas se revelam) ora nas idas-e-vindas com seu táxi pelas ruas de Sampa.

Não lembro como terminou nossa conversa naquele dia. Sei que, na esteira do papo, me pus a pensar no assunto – e, pra variar, não cheguei a conclusão alguma.

Olhar nos olhos de alguém pode ser um gesto nobre, definitivo; mas pode também ser uma intimidação, tipo: sabe com quem você está falando?

Os mais antiguinhos como eu devem bem se recordar de que bastava o severo olhar do pai para nos colocar em nosso devido lugar de filhos obedientes.

Enfim… Eram outros tempos.

Até porque, se me permitem, as grandes verdades, as grandes declarações, quando a fazemos, reparem bem, estamos olhando para dentro de nós mesmos, da nossa alma, dos nossos sentimentos.

Já ouvi grandes mentiras que me foram ditas assim, na bucha, como se fossem a mais absoluta das certezas.

Também já trombei com meias-verdades e, réu confesso, retribui na boa e cara-a-cara.

Particularmente, me encanta – e não saberia definir a intensidade – daquele exato momento quando os olhares se cruzam, assim meio que distraída e inesperadamente, sem nada querer dizer e já tudo dizendo. Não com palavras, mas com sonhos, devaneios ousadias.

É exatamente aí, creio, e com a vênia do amigo Nicola e de seus pares, que a vida recomeça.

O inverso –lamento informar – também é real. Quando os olhares se encontram e não se vê mais ali, o brilho que um dia houve.

Sabe-se então que é o fim.

O fim que, por mais doído que seja, incide obrigatoriamente em um novo começo.

É da vida e dos amores.

Como diria o grande Roberto, se chorei ou se sofri… (queiramos ou não, gostemos ou não das canções de Roberto/Erasmo, cada um de nós sabe bem como completar a frase.)

(* Post de número 1993)