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Operação Portugal (2)

Continuando o papo de ontem…

Diante de tantas recusas, o editor até pensou em improvisar. Se a tal clínica tivesse um folder ou qualquer outro material publicitário, ele mesmo daria uma requentada no texto e mandaria ver.

Como se dizia à época, se não tem tu, vai tu mesmo…

Mas, para a salvação de todos, até porque o clima já estava ficando tenso, apareceu um abnegado redator de variedades. Abnegado, até a página dois. Para se livrar do roteirão das atrações do fim de semana, o cara topava fazer a matéria comercial.

Convencer os fotógrafos foi mais tranqüilo. Bastou dizer que haveria mulher na parada, todos se assanharam. Imaginaram as moças de biquínis fazendo bronzeamento artificial ou mesmo deitada nas camas sendo massageadas e outras situações tão sumárias quanto. Como disse, todos se assanharam. Mas foi um só o escolhido.

A dupla dinâmica partiu para a heróica e jabazenta jornada. Hora e meia depois, estavam de volta.

Calados partiram, calados chegaram hora e meia depois.

Estávamos empenhados em nossos afazeres – e ninguém mais se deu conta da matéria da última página. O rapaz fez o texto sem maiores angústias, esperou que as fotos chegassem, enfiou tudo num envelope amarronzado – e mandou para o comercial.
Que iria desenhar a página.

Faria o lay-out, como gostavam de dizer.

Página rabiscada no diagrama, foi para o past-up (só os antiguinhos saberão do que estou falando) para ser montada. Ninguém dando a mínima para a dita-cuja.

Na Redação, dizíamos:

— É anúncio. A Publicidade que cuide!

A Publicidade rebatia:

— É matéria. Coisa da Redação!

O secretário gráfico berrava aqui e acolá.

— Quem vai bater as emendas da última página?

(Tradução: revisar para ver se estava tudo nos conformes.)

Ninguém respondia.

O tempo comendo solto. As páginas fechando e ‘pobrezinha’ ali à espera da liberação.

Preciso dizer?

Mandaram a página descer para a fotomecânica e impressão sem checar.

Quem foi?

Até hoje paira o mistério.

E, olhem, que não faltaram ameaças de demissão em massa em todos os departamentos da empresa. Do contínuo ao editor, que insistia em dizer que a página era responsabilidade dos “gravatas” (o pessoal da Publicidade). Do revisor – que jura ter lido a frase correta – ao chefe da Publicidade que teimava em culpar os jornalistas.

— Esses irresponsáveis! Nós é que pagamos o salário deles. Sem anúncio, o jornal não sobreviveria…

Um bate-boca inesquecível naquela manhã de sexta-feira.

A dona da Clínica Estica e Puxa, com dois advogados, chegou chegando no prédio do jornal. Atropelou os seguranças e foi direto para o andar da Diretoria. Trazia uma edição do nosso combativo jornal amarfanhada em uma das mãos e os olhos crispando fogo. Invadiu a sala do manda-chuva e soltou o verbo.

Queria que a edição fosse recolhida. Pediria uma indenização milionária. Processaria o jornal, quem escreveu, quem pegou o anúncio, quem revisou, quem imprimiu e quem mais tivesse participação naquela “cafajestagem” – palavra empregada pela senhora que, aparentemente, era de fino trato.

O que aconteceu?

Um errinho comum de digitação, talvez.

Lá no meio da página, onde deveria estar escrito:

“Nossas fisioterapeutas atendem, sem compromisso, com hora marcada. Venha visitá-las.”

Saiu:

“ Nossas fisioteraputas atendem…”

Que barraco!