Foto: Reprodução/Twitter
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Eu gostaria bem de ser um sábio.
Nos velhos livros consta o que é sabedoria: manter-se longe das lidas do mundo e o tempo breve deixar correr sem medo.
Também saber passar sem violência, pagar o mal com o bem, os próprios desejos não realizar e sim esquecer, conta-se como sabedoria.
Não posso nada disso.
Realmente eu vivo num tempo sombrio.
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Às cidades cheguei em tempo de desordem, com a fome imperando.
Junto aos homens cheguei em tempo de tumulto e me rebelei com eles.
Bem pouco podia eu, mas os mandões sem mim sentiam-se mais garantidos, eu esperava.
Minguadas eram as forças. E a meta ficava a grande distância. Claramente visível, conquanto para mim difícil de alcançar.
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Vínhamos nós então mudando de país mais do que de sapatos, em meio às lutas de classes, desesperados, enquanto apenas injustiça havia e revolta nenhuma.
E entretanto sabíamos: também o ódio à baixeza endurece as feições, também a raiva contra a injustiça torna mais rouca a voz.
Ah, e nós, que pretendíamos preparar o terreno para a amizade, nem bons amigos nós mesmos pudemos ser.
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Vós, que vireis na crista da maré em que nos afogamos, pensai, quando falardes em nossas fraquezas, também no tempo sombrio a que escapastes.
Mas, vós, quando chegar a ocasião de ser o homem um parceiro para o homem, pensai em nós com simpatia.
* BERTOLT BRECHT, breve adaptação do poema Aos Que Vão Nascer.
()A partir da tradução de Geir Campos
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