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Os anos de chumbo

Era para ser um painel de discussões sobre os 40 anos da Faculdade de Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo. Eu, na função de coordenador de Jornalismo, falaria sobre o Rudge Ramos Jornal – publicação quinzenal, feita pelos alunos do curso – que faz a extensão entre a Instituição e a comunidade há nada menos que 32 anos.

Inclusive postei ontem aqui o texto base do meu pronunciamento.

II.

Acontece que o coordenador da mesa, professor Antônio Andrade, na abertura dos trabalhos resolveu mostrar à distinta e jovem plateia imagens de fatos que marcaram o Brasil no ano santo de 1972, quando foi fundada a FAC.

Foi inevitável, meus caros.

Inevitável a mim e aos demais componentes da mesa (o professor Takara e o Paulo Ferrari, da agência Octópolus) um mergulho nos tais anos 70, e nas histórias de nossas vidas.

A nefasta ação da ditadura militar e a luta contra a censura (afinal, falávamos para futuros comunicadores) acabaram por ser a tônica dos pronunciamentos.

III.

Bem ao estilo da personagem do filme Forrest Gump (alguém se lembra?), acabei me sentindo assim uma espécie de testemunha ocular da história.
Em 1972, entrei na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo sem saber ao certo que curso faria. Escolhi Jornalismo e, costumo brincar, continuo sem saber ao certo o que fazer.

Havia um professor de Telejornalismo que se destacava pelo rigor e por sua indignação aos tempos sombrios que, então, se vivia. Seu nome: Vladimir Herzog, assassinado nos porões do DOI/CODI em São Paulo em 1975, numa ação estúpida de grupos paramilitares contrários à redemocratização. Que a partir daí se tornou inevitável.

Três anos depois, em 1978, já formado, eu defendia uns trocos como diagramador do semanário Gazeta de São Bernardo quando estouraram as greves do ABC, consolidando a liderança do metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva a revelar que o País se encaminhava para novos tempos. O jornalista Marco Pichini, no comando do jornal, dedicou toda uma edição ao movimento dos trabalhadores que lotaram o Estádio 1º de Maio em busca de melhores condições de vida. Edição pronta, o jornal não circulou porque os proprietários temeram uma represália do governo de então.

IV.

Eram tempos outros.

Não sei se a garotada entendeu direito o que ali acontecia.

A emoção que tocou nossos depoimentos.

Não apenas pelos relatos que fizemos, mas principalmente pela certeza de que – mesmo com todos os pesares dos dias atuais – soubemos, como Nação, fazer a transição e virar essa página infeliz da nossa história.

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