Foto: Arquivo Pessoal
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Os bailes eram o ponto alto de nossas comedidas vidinhas juvenis.
Nunca fui o Rei das Pistas.
Para meu inevitável constrangimento.
E para decepção do Velho Aldo, meu pai, que se dizia ‘um pé de valsa’, capaz de voltear para os dois lados, o esquerdo e o direito. Prodígio que, segundo seu próprio e imodesto relato, “poucos conseguiam”.
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Talvez por isso o amigo (amigo?) de priscas eras, o Dogival, que raramente dá notícia no zap e sei lá por onde anda, mas que me conhece daqueles idos, estranhou o tom nostálgico do meu post/crônica de sábado “O Mar” em que divulgo o lindo registro que Caetano Veloso fez da canção francesa “La Mer”.
No texto, falei “do carrosel de recuerdos que me veio ao ouví-la”.
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Dogiva estranhou.
Lembrou minha inaptidão para volteios e rodopoios nos calorosos bailecos de então.
E fez questão de lembrar o apelido que a turma de debochados me deu:
“Pé na Parede.”
Motivo era óbvio.
Escolhia um canto (quase sempre perto do palco, onde podia ver os músicas e as cantantes) e lá me encostava durante as dançantes seleções musicais.
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Dogiva, Formigão, Oswaldo Bode, Astrão, Dumbo (que tocava contrabaixo numa banda de rock) e outros saíam à caça. Flanavam pela penumbra do salão, estilo Humphrey Bogart, em busca da moça que conquistariam só com o olhar e lhes faria par (se possível, para o resto da noite, para o resto da vida).
Éramos românticos, mas sejamos sinceros, amigo Dogiva, nem sempre os carudos foram bem-sucedidos na empreitada.
Ao fim da música, voltavam solitários, mas cheios de ‘quases’ e boas histórias para contar.
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Entre lorotas e a esperança de se saírem melhor na próxima rodada musical (“Agora vão tocar os sucessos de Ray Coniff”) iam para o bar ‘alimentar’ o sorriso, o gingado e a coragem.
O Bode gostava de um drink à base de hortelã e menta. Era esverdeado e, se bem me lembro, chamava “perppemint”. Horrível.
O Dumbo preferia o tal de “hi-fi” (vodka com refrigerante de laranja). Enjoativo, mas tolerável.
Os demais iam de “cuba-libre” (rum com coca-cola).
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Eu, nem isso.
Ficava ali, abraçado ao meu surrado blazer azul-marinho, a embriagar-me de sons, sonhos e possibilidades impossíveis. Que hoje, amigo Dogival, chamamos de saudade.
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O que você acha?