Hoje no almoço alguém lembrou os tempos idos e vividos que eu jogava futebol.
Bons tempos.
Sinceramente não sei se melhores do que os atuais.
Mas, eram bons – e movimentados.
Onde tivesse um joguinho lá íamos nós – os fominhas – cheios de razão e vontade.
Era assim a semana toda; aos sábados e domingos também.
Que vontade!
Para que tenham ideia, basta dizer que a mala com a brava chuteira Diadora italiana, presente do meu amigo Rubão, ficava sempre a mão, no porta mala do automóvel.
Houve uma época que chegava a ser compulsivo o desejo de bater uma bolinha.
Lembro de determinado feriado, desses chuvosos e frios, em que o Clube Atlético Ypiranga , sei lá por qual motivo, resolveu não abrir suas portas. Eu e o amigo Ayres Roberto andamos por todos os society de São Paulo atrás de uma ‘boquinha’.
Encontramos um pessoal que se preparava para entrar em quadra lá nos cafundós de Santo Amaro.
Caía uma garoinha fina e intermitente.
É agora, pensamos.
Descemos do carro mais do que otimista.
— E aí? Tem lugar para mais dois? – perguntou simpaticamente o Ayres ao senhor que distribuía os coletes para formar as equipes.
Não recebemos sequer resposta.
Só vimos o olhar de reprovação dos mal-humorados – e ouvimos o estalo do portão da quadra de society que se fechou à nossa frente.
Saímos dali inconformados.
E olhe que jogávamos quase todos os dias.
De segunda, no campinho de areia fofa do Bigucci, em São Bernardo. A partir daí, passávamos a semana no CAY. De terça pela manhã, das 7h30 às 9 horas, no ‘racha’ entre “vovôs” e aposentados. Na quarta, tentávamos um lugar no UTI. Na quinta à noite, era certo nossa presença no poderoso esquadrão do Sucatão, comandado pelo camisa 10, capitão, técnico e patrocinador da equipe, Mílton Bigucci.
Sexta, folgávamos, pois ninguém é de ferro.
Sábado e domingo, participávamos do campeonato interno do Ypiranga em duas categorias – abaixo e acima de 40 anos.
Havia até uma brincadeira entre nós.
— Pessoal, pessoal tem um joguinho contra o Unidos de Itaquera, às duas da manhã, no campo do adversário, topam?
Duvido que, se fosse pra valer, não toparíamos.
Quando o jovem Felipe fez a observação no almoço, em tom de pilhéria para ressaltar a minha idade, sequer poderia imaginar o tamanho da minha saudade e o quanto correr atrás de uma bola me fez feliz.
É isso…