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Os poetas e o repórter

Dia desses, e não faz muito, lembrei o amigo Nasci, então um veterano da Redação, e o jeito bom com o qual pretendia nos iniciar na arte e no ofício do amar e do viver.

“Vocês são jovens e inconsequentes”, dizia o Mestre e, o tralalá do post na íntegra atende pelo nome de “O Amor. Na Linha do Horizonte…”

Se meus caríssimos cinco ou seis leitores me derem a honra de (re)visitá-lo, será oportuno; pois hoje gostaria de completar aquela narrativa.

Não usarei palavras minhas, e sim do poeta Carlos Drummond de Andrade que, em 14 de julho de 1979, publicou uma crônica em forma de carta, uma tocante homenagem a Cora Coralina, escritora brasileira que tinha 76 anos quando seu primeiro livro foi publicado.

II.

O texto de Drummond – responsável por apresentá-la ao mercado editorial – é um encanto. Ouso transcrevê-lo a seguir:

Rio de Janeiro, 14 de julho de 1979

Cora Coralina.

Não tendo o seu endereço, lanço estas palavras ao vento, na esperança de que ele as deposite em suas mãos.

Admiro e amo você como alguém que vive em estado de graça com a poesia. Seu livro é um encanto, seu verso é água corrente, seu lirismo tem a força e a delicadeza das coisas naturais. Ah, você me dá saudades de Minas, tão irmã do teu Goiás! Dá alegria na gente saber que existe bem no coração do Brasil um ser chamado Cora Coralina.

Todo o carinho, toda a admiração do seu…

Carlos Drummond de Andrade

III.

É ou não é uma declaração de amor?

À veneranda poeta e contadora de causos (que tinha então 90 anos)…

À poesia…

E à vida.

IV.

Hoje pela manhã, o jornalista Nélson Araújo (apresentador do Globo Rural) visitou a Universidade Metodista de São Paulo. Falou por mais de duas horas aos primeiros anistas do curso de jornalismo.

Avesso às pompas e circunstâncias, ele preferiu não nominar o encontro como Aula Magna – mas, depois de tantas e tamanhas lições de bom jornalismo, os organizadores chegaram a conclusão de que acabavam de inventar um novo gênero de palestras; o bate-papo magno.

Em meio à explanação, Araújo convocou a plateia a elencar três coisas vitais para a vida no Planeta.

Água, ar e alimento, concluiu-se acertadamente.

Araújo permitiu-se então indicar um quarto elemento.

Tirou da mochila dois exemplares de livros de Guimarães Rosa e, ao mostrá-los para o público, anunciou que não se vive sem poesia.

V.

Fiquei a matutar que verdadeiramente a poesia, tenha a forma que tiver, está em toda a parte. Nas palavras, no olhar, em um sorriso.

Poesia pressupõe entrega, sentimento, sensibilidade, amor.

Mesmo submerso em leads e subleads, em linhas finas e “pirâmides invertidas”, não se faz um bom texto jornalístico ao se prescindir dessas características.

Se elas nos faltarem, corremos o risco de nos transformarmos numa extensão do computador.

Ou seja, sem poesia, nem o jornalismo sobrevive…