Há 50 milhões de jovens no Brasil, e seu silêncio é triste e assustador. O país atravessa uma crise grave, que ameaça seus princípios democráticos e as liberdades conquistadas com duros sacrifícios, e esse sangue jovem parece adormecido. Uivam as sirenes dos alarmes do ódio, e na rua emudecem as vozes dos jovens que deveriam querer um Brasil que ouça sua voz, com maior espaço para seus sonhos, que sempre são os de liberdade e de felicidade.
O paradoxo é que, segundo um estudo da Secretaria Nacional da Juventude (SNJ) da Presidência da República, 9 de cada 10 jovens brasileiros “acreditam ter capacidade de mudar o mundo”. E gostariam de mudá-lo. Sabem, entretanto, que não conseguirão fazer isso sozinhos, e sim pelas mãos de quem ponha fé neles, sem vontade de manipulá-los nem intoxicá-los, deixando que expressem o melhor de si mesmos.
Talvez os jovens se calem porque sabem que os mais velhos, que são os que deveriam aproveitar sua capacidade de querer melhorar o mundo, perderam a fé neles …
(…)
Vou no embalo do jornalista Juan Arias, hoje em El País.
Excelente análise no texto:
Esse triste silêncio dos 50 milhões de jovens brasileiros
Propõe a todos, de todas as faixas etárias, uma reflexão, sincera.
E um amplo congraçamento de forças e quereres.
Leia a ÍNTEGRA…
… e volte aqui.
(…)
Explico.
Pertenço a uma geração que acreditou no sonho (palavra que usávamos à exaustão – e ainda nos cabe a esperançosa teimosia) e na construção de um Brasil de todos os brasileiros. Justo, solidário e contemporâneo.
Tenho muito orgulho das conquistas que consolidamos na longa jornada. Nas artes, no respeito aos direitos civis e à liberdade e, sobretudo, na luta pela redemocratização do País.
Penso, no entanto, que em algum momento perdemos o rumo. Não soubemos seguir em frente – e deixamos nos levar por preceitos e costumes que tanto combatemos no passado.
Nossos erros nos trouxeram até a encruzilhada que hoje vivemos.
Como seguir adiante, em meio à intolerância, ao ódio e latente promessa de um duro retrocesso social?
(…)
Me alertam que essas onda conservadora, do manda quem pode/obedece quem tem juízo, da supremacia deste sobre aquele, tem hoje alcance mundial.
‘”O Brasil – destacam com toda a empáfia – não foge à regra.”
“É assim na Europa, veja Trump nos Estados Unidos.”
Tristes e desoladores modelos…
(…)
Ainda agora uma caríssima leitora (e o que seria de mim, sem meus amáveis cinco ou seis leitores?) me diz, algo desconsolada, que “já não existem jornalistas como antigamente”.
É muito provável, eu lhe respondi.
Porque vivemos outro momento da História.
Porque o jornalista deixou de ser única e exclusivamente a expressão do pensamento social, o historiador do cotidiano, o repórter dedicado, o mediador isento das coisas todas que estão no mundo…
Etc etc…
(…)
No entanto, não quero e não posso deixar de acreditar na turma que vem pela aí – e não só no jornalismo, mas em todas as áreas da vida humana.
A mudança, se ocorrer, virá por meio dos sonhos (talvez aqueles que deixamos pelo caminho), dos corações e da coragem da rapaziada.
A nós, os mais experientes, digamos assim, cabe endossar as sábias palavras do Papa Francisco em recentes andanças pela belíssima Sicília e falando justa mente para… milhares de jovens:
“Não olhem a vida pela janela. Não se coloquem na rabeira da História. Sejam protagonistas”.
(…)
Amigos, se preferirem uma versão mais nativa, fiquem com um verso que nos acalentou a todos quando tínhamos a idade que hoje eles têm.
“Viver é melhor que sonhar.”
O poeta Belchior deu o toque, e eu o dedico à nossa juventude para que se arvore a combater o bom combate – e, lá na frente, não erre onde erramos.
O que você acha?