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Os suburbanos

Achei bem curiosa a entrevista do ex-atacante palmeirense César Maluco ao jornal Diário de São Paulo. A propósito de uma coleção de miniaturas de modelos de carros famosos, ele foi instado a falar dos tempos áureos de jogador de futebol, quando flanava pelas ruas de São Paulo a bordo de um possante Dodge Dart.

César, confirmando a fama de tantã, confessou que teve dois desses veículos. O primeiro, ele abalroou assim que saiu da revenda porque ficou enfeitiçado por uma menina-gata-Augusta que se apresentou em seu caminho.

Compreensivo, o pessoal da loja – os caras deviam ser palmeirenses – recolheu o veículo amassado e lhe deram outro novo.

Teve vida mais longa. Mas, não tanto…

Meses depois, ele estava “concentrado” na boate Cave quando a jovem cantora Nalva Aguiar pediu o carango emprestado – e não deu outra.

“Foi a última vez que o carrinho”, confessou.

Nalva fez um strike em outros carros alguns quarteirões adiante.

Ao que parece, deu perda total, mas não houve feridos – e César logo estava a bordo de outro jatomóvel pela aí, aprontando das suas e fazendo gols pelo Verdão.

Falei do César Maluco (que era um dos meus ídolos na Academia, palestrino que sou), lembrei o Dodjão de priscas eras, citei a Nalva Aguiar (a quem conheci no lançamento em um de seus discos jovemguadianos), mas o interesse de registrar esta história se deve à boate Cave, que tinha fama de fazer e acontecer na noite paulistana.

Éramos jovens suburbanos, e sonhadores. Líamos e ouvíamos maravilhas das noites da Cave. Durangos que sós nós, e repleto de ideinhas, imaginávamos o dia em que chegaríamos, na maior elegância, na dita-cuja e todas as mulheres ali presentes só teriam olhares e desejos para a turma de IV Centenário (nome do colégio onde estudávamos).

Certa noite, juntamos uns trocados, enchemo-nos de brio e decidimos – “é hoje!”. Entramos no Fusquinha 63 do Astro, outros foram para o Fuscão do Zé Roberto e partimos para o Cave. Encostamos nossas poderosas máquinas perto da Major Sertório (a gente nem sabia ao certo onde ficava a tal Casa).

Estávamos ali em conjecturas financeiras, quando pararam duas viaturas ao nosso redor. Desceram alguns policiais. Olharam bem para nós, para nossas roupas, nossos carros – e não tiveram dúvidas em ordenar:

— Circulando, rapaziada, circulando…

Ainda tentamos um diálogo, vão e desnecessário.

Riram das nossas intenções de frequentar a luxuosa boate.

E um deles foi, digamos, didático:

— Com esses trocados, vocês não compram nem um saquinho de pipoca. Façam o que dissemos. Circulando, rapaziada, circulando…

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