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Os trabalhadores do prédio ao lado

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Foto: Arquivo Pessoal

Moro no 19° andar de um prédio rodeado de outras construções menores.

Da janela da cozinha, vejo o movimento da rapaziada que conserta o telhado de um prédio ao lado.

(Deve ter uns 12 andares.)

É um trabalho e tanto. Colocam uma espécie de placa de metal em toda a lateral, bem junto às calhas. Unidade por unidade. Uma tarefa meticulosa. Desconfio que vão trocar todas as telhas também.

Faz dias que eu os observo.

Fico admirado com a destreza e atenção com que  se movimentam, pra lá e pra cá, a mercê das necessidades do serviço. Por horas e horas.

Hoje faz sol. Estão mais ativos, parece.

Aproveitam, creio, para tirar eventual atraso dos dias chuvosos.

Usam capacetes.

Daqui, de onde estou, não dá pra ver se carregam outros dispositivos que integram o protocolo de segurança.

Penso que sim.

De qualquer forma, é de se admirar o zelo e os cuidados da turma.

Inevitável não me ocorrer uma analogia com os passos que damos nos dias atuais, premidos – passos e dias – por tantos e tão variados desatinos.

E por tanta falta de atenção e cuidado.

A começar pela trágica pandemia que nos assola, e parece sem final anunciado.

Triste realidade de um país que desastrosamente antecipou os meneios eleitorais de 2022 – e, de forma irresponsável, protelou as ações necessárias para vivermos o 20 e o 21, com a mínima e desejável condição de segurança sanitária.

Alguém me diz que:

– Ah! o Planeta todo vive essa triste realidade!

Vou concordar discordando:

Raros foram os nefastos que a negligenciaram como o fizeram os mandatários brasileiros.

Os representantes do (des)governo federal negligenciaram os tais protocolos de segurança, os ditames da ciência, desprezaram a compra das vacinas na hora devida – e, não satisfeitos, tumultuaram, com perversa desinformação, o comportamento da sociedade.

Triste, mas real.

Ainda ontem soube, mesmo sem querer saber (pois, me aborrece muito esse negacionismo torpe), dos resquícios da tal ‘motociata’ presidencial. 12 mil motociclistas acompanharam o Dito-Cujo no tal bordejo pelas ruas paulistanas e arredores.

(A troco de quê? Um absurdo!)

Comportamento típico de um presidente responsável.

Só que não!

Ainda ontem começou a tal Copa América, com show de Neymar & Cia. Pra frente, Brasil!

(E…?)

Ainda ontem soube da troca de farpas entre o governador de São Paulo e o ministro da Saúde para ver quem é o bambambã do calendário de vacinação.

(Ora, senhores, deixem de personalismos. Assumam, sem banhos de sol em hotéis de bacanas, uma postura responsável e conjunta para nos livrar da terrível ameaça.)

Logo, logo, pelos próximos dias, triste prognóstico, atingiremos à estúpida e dolorosa marca de 500 mil vidas ceifadas pela pandemia.

“E daí?” – disse o tal.

Então…

Como ficamos?

Indiferentes?

Letárgicos?

Omisssos?

Os isentões da vez?

Afinal, são tomados de “delírios comunistas” todos aqueles que apregoam mais fraternidade, mais empatia social, mais humanidade para com a nossa gente.

O Brasil flerta com o retrocesso, o descalabro – e daí?

Nossa tenra democracia está aos pedaços – e daí?

Retomo o exemplo dos trabalhadores do prédio ao lado.

Não sei em que votaram.

Sei que fazem um trabalho conjunto – e solidário.

Têm muito a nos ensinar.

Temos muito o que aprender enquanto nação.

A vida é um dom, amáveis leitores.

Mas, é também construção diária individual e coletiva do imprescindível bem comum.

* A propósito, leiam AQUI o texto da jornalista Milly Lacombe:

A vida é persistente, é ao vivo, é enorme

 

 

 

 

 

 

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