Não resisto à tentação de continuar a falar de futebol por aqui.
Explico o óbvio,
A coincidência do placar de 7 a 1 de ontem, contra a inexistente equipe do Haiti, gerou uma incontrolada onda de brincadeiras nos programas esportivos da TV e nas redes sociais. Quase todos fizeram chacota com o vexame da nossa seleção diante da Alemanha, o tragicômico 7 a 1, no Mundial de 2014.
O brasileiro tem mesmo uma vocação para o riso. Seja por estar feliz, seja por desespero e/ou conformismo. Lembram a piada pronta que se arrastou por longos meses entre nós? Bastava alguém tropeçar ou cometer um equívoco qualquer para outro anunciar, debochado: “Gol da Alemanha!”
Pois então…
Passo longe da anedota. Quero, sim, e se me permite a companhia do caro leitor, fazer duas ou três observações (ainda não decidi) sobre a realidade do futebol brasileiro hoje a partir do que vi ontem na Copa América.
1- A flagrante diferença de nível das seleções do Brasil e do Haiti (que gerou os sete gols a um) era regra geral até os anos 70, início dos 80, quando o escrete enfrentava seleções como Venezuela, Equador, Bolívia, Peru e, vá lá, vez ou outra a Colômbia. Não havia a tal globalização e os patamares esportivos entre os países eram bem desnivelados. O tal do futebol-arte ainda era a tônica, com ênfase na individualidade e no talento.
2– Há quem veja avanços táticos e técnicos na seleção de Dunga a partir do afastamento da maior parte dos boleiros que jogaram a Copa de 2014. Comentam que o time está mais leve, solto, especialmente após a entrada de Casemiro no meio de campo. Acho precipitadas essas avaliações e ainda não me empolgo com as tais promessas – Lucas Lima, Gabigol, Felipe Coutinho, Marquinhos, entre outros olímpicos. Muita calma nessa hora. Há muita água para rolar debaixo dessa ponte. Não vejo (ainda, tomara que me engane) bola nesse pessoal para chegar perto do status de um Neymar que ainda não se aproxima do que foram Ronaldo e Romário que até encostaram-se a Zico, Rivelino, Ademir da Guia e Tostão que, por sua vez, não foram Pelé e/ou Garrincha. Dá para entender?
3– Quanto ao comando da seleção, como diriam o Seu Jorge e a Ana Carolina, “é isso aí”. Vamos com Gilmar Rinaldi e Dunga porque assim é a CBF. São retratos dos homens que ainda comandam o nosso futebol. À imagem e semelhança dos Del Neros e dos Feldmans da vida (que estes, sim, repetem a sinuosa trajetória de Havelange, Teixeira e Marin). Vejo muitos analistas esportivos (ui!) devanearem com um técnico estrangeiro à frente da seleção. Falaram em Guardiola às vésperas da Copa no Brasil, lembram? Sejamos sinceros, tão sinceros quanto o Galvão Bueno quando critica hoje os mandatários da CBF que ontem ele tanto elogiou, temos estrutura para abrigarmos tamanho desafio?
Sem chance, só se começarmos as mudanças bem do começo…