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Palavras ao vento…

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Foto: Arquivo Pessoal

Há dias que são assim…

– e passam que passam.

De tão iguais, uns aos outros, a gente nem sequer consegue dar conta que existimos dentro deles.

Não sei se acontece com você, mas comigo é assim.

Só muito lá pra frente vou atentar para o enigma que distrai e concentra e renova e matiza o tal e o qual preciso instante que, de tão mágico, me faz perguntar ao Sr. Tempo:

Será que fui eu mesmo que o vivi?

Ou apenas imaginei ter vivido?”

Dou-lhe um exemplo com óbvio gosto de memória:

Meados dos anos 90, jornal na gráfica, a turma da velha redação de piso assoalhado resolveu ‘fechar’ a noite num restaurante italiano nas imediações da Avenida Paulista.

Presumo hoje que tenha sido próximo ao dia 25 de um mês qualquer, data do adiantamento de parte do salário.

Era só um encontro de amigos, uma confraternização aleatória e espontânea, sem referência a este ou aquele motivo, esta ou aquela efeméride.

Alguém sapecou a bem vinda sugestão:

– Vamos jantar na Cantina de Lucca?

Outro topou, e mais outro e mais outro…

Pronto.

Formou-se, noite adentro, o que chamávamos de o Incrível Exército de Brancaleone.

O jornal vivia uma fase, digamos, meio estranha.

As páginas andavam recheadas de anúncios. Mas, por opção da Administração, estava cada vez mais escasso o espaço para a redação. Muito desproporcional a relação notícia/publicidade. Comprometia inclusive o visual gráfico e editorial.

Como diretor de Redação, era voto vencido nas reuniões. Meus argumentos – em prol do que entendia ser necessário para a prática do bom jornalismo – eram protelados, quando não ignorados com a justificativa de sempre:

– Estamos garantindo o salário de todos vocês!

Patrão bom nasce morto – lembrei o grande mestre Zé Jofre em tempos idos a enfrentar a inefável questão: quem é quem dentro de uma empresa de comunicação, Igreja ou Estado?

De minha parte, acrescentaria que, infelizmente, quando se trata de faturar em próprio benefício, os senhores-da-grana, todos, se parecem.

A reportada ficava furiosa.

Mas, me dava aquela força.

Estavam com a minha causa (ou melhor, a nossa causa) e não abriam.

Quase todos eram formados pela Universidade Metodista de São Paulo – e, naquela madrugada, lá pelas tantas, para me dar um moral, alguém aventou a possibilidade que eu nunca havia sequer cogitado e, então, achava impossível:

– Já pensaram se o Rodolfo fosse o editor-chefe do Rudge Ramos Jornal?  Lá, ele não teria esse problema de falta de espaço. O jornal não tem anúncio. Todas as páginas são para o exercício da reportagem. Seria show, não?

Explica-se: o RRJ era o jornal laboratório do estudantes de jornalismo da Metodista. De circulação gratuita e semanal no bairro de Rudge Ramos e imediações, São Bernardo do Campo, onde se situa a Universidade. Tinha 25 mil exemplares, de 8 a 12 páginas. Com professores/editores que supervisionavam o trabalho dos jovens.

O que faz algumas taças de vinho a mais…

Todos concordaram.

E riram.

E ,incrível, aplaudiram a ideia

Lembraram seus tempos de Rudge, a primeira experiência como repórteres, a emoção de ver o nome grafado em letras impressas e cousa e lousa e maripo(u)sa.

Houve quem fizesse arremedo, em tom professoral, dos bordões (impublicáveis) que eu usava nas horas mais incandescentes dos ‘fechamentos’ – e por aí foi.

Uma farra!

Acredite se quiser, amável leito, amada leitora, coisa de dois ou três anos depois o Rudge Ramos Jornal foi minha porta de entrada na Universidade Metodista de São Paulo, onde fiquei por 20 anos – sete deles no RRJ, 5 como editor-chefe.

(Outros 13 anos atuei como coordenador do curso.)

Para quem acredita nas bênçãos das boas palavras jogadas ao vento numa noite feliz, eis que cumpriu-se o mistério.

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