Foto: Vatican News
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Não sou referência pra nada, certo?
Vida de cronista é assim mesmo.
Conta um conto – e, por vezes, aumenta um ponto.
Na verdade, queremos mais que o leitor, diante dessa suposta lente de aumente, tenha olhos (atentos) pra olhar e ver. Ouvidos (apurados) pra escutar e ouvir.
Mesmo as bobagens que escrevo têm essa tola pretensão.
Como diz o poeta Paulinho da Viola, na belíssima “Coisas do Mundo, Minha Nega”:
As coisas estão no mundo
Só que eu preciso aprender
Que samba lindo!
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Caros, até historietas que lembro vez e sempre, meu inescapável culto à memória e às pessoas amadas, seguem o mesmo objetivo.
Querem ver?
Contei aqui que, aos 18 anos, prestei concurso para ser um modesto funcionário do então imponente Banco Português do Brasil, sediado na área nobre da Avenida Paulista.
Me saí bem nas primeiras provas. Estava convicto que seria aprovado, com louvor.
Tanto que acabei chamado para a entrevista entre os 10 finalistas.
Cheguei todo simpático e tal.
Respondia na lata a tudo o que me perguntavam. Até que alguém me propôs uma nobre consideração:
“Fique à vontade, candidato. Gostaria de que colocasse para nós, da banca, quais são as três personalidades mais importantes do mundo de hoje?”
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Estávamos em 1969. Em plena vigência do AI-5; portanto, do ‘florescente’ período ditatorial.
Mas, eu relevei.
Fui objetivo na resposta.
“Martin Luther King, John Lennon e… Caetano Veloso.”
Desconfio, só desconfio que cessaram aí as minhas chances de contratação.
Até lamento, mas não me arrependo.
Verdade verdadeira nunca tive vocação pra bancário.
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Vida que segue.
50 anos depois, neste arrastado e chamuscado 2019, ouso fazer outra afirmação na mesma toada. Aliás, esta sem que ninguém me peça.
Vou lhes dizer:
Considero o Papa Francisco a liderança de maior relevância no mundo contemporâneo. Por tudo que pensa e diz, pelas atitudes que toma e, principalmente, pelo exemplo que nos lega de justiça e fraternidade.
(Além óbvio, do amor a Deus e aos ensinamentos do Evangelho.)
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A corroborar o que digo, cito o pronunciamento que Francisco fez ontem durante a missa de abertura da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica, celebrada na manhã de ontem, na santa basílica de São Pedro.
Separei alguns trechos de sua fala:
Quando sem amor nem respeito se devoram povos e culturas, não é o fogo de Deus, mas do mundo. Contudo quantas vezes o dom de Deus foi, não oferecido, mas imposto! Quantas vezes houve colonização em vez de evangelização!
Deus nos preserve da ganância dos novos colonialismos.
O fogo ateado por interesses que destroem, como o que devastou recentemente a Amazônia, não é o do Evangelho. O fogo de Deus é calor que atrai e congrega em unidade. Alimenta-se com a partilha, não com os lucros.
Muitos irmãos e irmãs na Amazônia carregam cruzes pesadas e aguardam pela consolação libertadora do Evangelho, pela carícia de amor da Igreja. Por eles, com eles, caminhemos juntos.
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Não sou referência pra nada, certo?
Mas, amigos, reitero: pensem nas considerações que o Papa Francisco nos faz…
Somos parte dessa luta por uma amanhã de Justiça e Paz.
O que você acha?