Ainda no embalo da nossa conversa de ontem, lembrei-me de que a melhor – ou, pelo menos, a mais bem sucedida – versão nativa de “Blowin in the Wind” foi de Diana Pequeno.
“Diana, quem?” Há de perguntar o mais jovem dos meus cinco ou seis leitores.
Explico a eles e eventuais desmemoriados de plantão.
Diana Pequeno é uma cantora baiana que fez um relativo sucesso e teve como principal hit do primeiro disco (Diana Pequeno, RCA Victor, 1978) a versão do mais famoso clássico de Dylan.
No Youtube, a galerinha pode e deve conferir.
A interpretação é belíssima – e ainda e sempre atual.
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Entrevistei Diana Pequeno assim que chegou a São Paulo quando se preparava para entrar em estúdio pela primeira vez. Foi ali nos corredores da RCA, nas imediações da rua Dona Veridiana, no centro de São Paulo. A menina (20 anos, se tanto) era puro entusiasmo.
E já sabia muito bem o que queria.
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Ao longo dos anos seguintes, sempre por força dos novos lançamentos, voltamos a nos encontrar para conversas que se estendiam muito além das músicas do álbum.
Além da voz bonita e suave, Diana se mostrou uma atenta observadora da vida e uma pesquisadora interessadíssima em nossa cultura popular.
Já nos primeiros discos, musicou poemas de Quintana e Cecília Meireles, entre outros nomes da literatura.
Flertou com a latinidade (como era moda, naqueles idos) e nos apresentou nomes de peso da música regional como Xangai, Vital França, Dércio Marques e o notável Elomar.
Diria que, de forma bastante pessoal, ocupou um espaço importante no efervescente caldeirão musical que caracterizou as décadas de 70 e 80.
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Não entendo bem os motivos que a fizeram paulatinamente sair de cena nos anos seguintes. Até desaparecer por completo da mídia e do showbiz no começo deste século.
Há quem alegue um total descompasso com as propostas mercadológicas que lhe apresentava a indústria fonográfica. Outros falam em uma provável decisão de ordem estritamente particular.
Não sei explicar. Nem sei onde anda.
Sei que nossa cena musical anda de uma pobreza de dar dó, e a nossa Dylan de longos cabelos encaracolados faz uma falta danada, com seus projetos e ousadias. Além, óbvio, da voz suave e bonita.