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Para lembrar o amigo José de Sá

Meus caros,

É sempre muito honroso participar de uma cerimônia de colação de grau. Um momento inesquecível na vida de cada um de vocês, de cada um de seus familiares.

Portanto, estou muito feliz de estar hoje aqui.

Quero, de início, desejar que vocês sejam extraordinariamente felizes, vida afora, tanto na profissão que abraçaram, o jornalismo, quanto na vida pessoal e familiar.

Sejam felizes – e façam feliz a quem estiver ao seu redor.

Um sorriso pode mudar o mundo.

Mas, embora saiba que o momento é de festa, permitam-me ocupar esta tribuna para reverenciar a memória do amigo José de Sá, professor desta Casa, que se foi ainda no início deste ano, “fora do combinado”, como diz o Sr. Brasil, Rolando Boldrin.

O Sá era um jornalista como nós, um professor e homem absolutamente comprometido com a questão da cidadania.

II.

Conheci o José de Sá em uma aula da pós. Eu fazia mestrado e ele, bem mais novo, já fazia doutorado. Tínhamos um professor francês, Jacques Villeron, que nos propôs uma provocação – e ninguém ali soube responder.

Quando o professor apontou para mim, fui objetivo:

– Je ne sais pas.

Todos riram, eu me livrei da bucha e aula prosseguiu. Ao fim dela, descemos para um café na cantina – e lá vem o Sá, que eu mal e mal cumprimentava, falando em francês comigo.

E eu não sabia bulhufas de francês, aliás não sei nada de nada.

Desfeito o mal entendido, ficamos amigo, chegamos a dar aula juntos, tanto em Crítica da Mídia quando em Linguagem Jornalística, e assim pude conhecer melhor "o pequeno-grande-homem".

Vindo de uma família humilde, o Sá só foi se alfabetizar já adolescente. O que não o impediu de fazer uma trajetória acadêmica meteórica. Estudou jornalismo na PUC e, com poucos mais de 30 anos, já defendia sua tese de mestrado. Além do que, nesse período, já dava aulas na Metodista e era assessor de imprensa do Ministério Público de São Paulo.

Era poliglota. Falava cinco idioma.

Vejam aonde eu fui meter minha colher de pau…

III.

Certa vez, por ocasião de um final de ano letivo, alguns professores – entre os quais, eu e o Sá – reuniram uma turma de estudantes estagiários da Agência de Notícia do curso para celebrarmos, em um restaurante granfino de São Paulo, para uma confraternização.

O Sá, vocês lembram bem, era todo cerimonioso, nos trinques, dentro da maior formalidade. Mas, nesta noite, ele estava impossível. Durante os comes e bebes – mais bebes que comes, diga-se -, o homem incorporou um orador daqueles bem inflamados e se pôs a discursar.

Não sei como, nem quem começou. Mas, a certa altura, estava o restaurante inteiro a bradar empolgado o refrão:

– Sá, Sá, Sá, Sá…
– Sá, Sá, Sá, Sá…

Lembro que foi uma algazarra só e a celebração – não sabemos bem o quê – foi generalizada.

A partir desse dia, o amigo foi contemplado com o epíteto:

“José de Sá. O homem, a lenda, o mito”.

IV.

Esse foi o nosso amigo e professor JS que deixou uma grande saudade em todos nós. Aliás, um dia todos nos chamaremos saudades. (Salve Nélson Cavaquinho!)

Mas hoje somos vida e luta!

Não exagero ao dizer que hoje vocês expressam os sonhos e anseios do José de Sá e também de cada um de nós.

O bastão agora está nas mãos de vocês.

Que, durante a jornada, saibam professar os legítimos pilares do jornalismo: o respeito à verdade factual, à função crítica e à independência fiscalizadora.

Que, a partir desses conceitos, promovam um Brasil verdadeiramente de todos os brasileiros. Vivemos um tempo de nuvens carregadas, divisionistas; um tempo de intolerância que aponta tristemente para o retrocesso.

O jornalismo é também e principalmente uma missão em prol do bem comum. Bem comum que passa, obrigatoriamente, pela preservação dos valores democráticos e cidadãos.

Isto posto, peço que vocês não se esqueçam de viver e se fazerem felizes, Que não se esqueçam de, ao longo do caminho de semear flores e amores…

Que a vida é uma só.

Sejam felizes, repito.

E parabéns!

*Pronunciamento que fiz ontem durante a cerimonia de colação de grau do curso de Jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo, turma “Eloíza Oliveira”.

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