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Para Mônica

Tá vivo?!…

Bju.

Mônica

Na íntegra, o email que hoje recebi.

Minha resposta:

Estou. Pode parecer incrível. Mas estou. Sabe que às vezes até eu mesmo me faço esta pergunta. Olho no espelho assim como quem não quer nada. Confiro os cabelos brancos – ralos, mas estão ali -, a barba por fazer, os quilos a mais, e digo:

— Vamos lá, cara, que hoje é outro dia. Viver é o maior dos milagres.

É certo que a vida anda com o breque de mão puxado pelos lados de cá. Parece que há tudo por fazer, e sair do lugar é que são elas.

Lembro de um velho filme infantil — eh, moça, mesmo sem ir ao cinema ultimamente, ando a citar filmes e mais filmes por aqui. Chamava-se História Sem Fim, sem bem me recordo. O rapazinho precisa atravessar o Charco da Solidão. Um lodaçal monstro, meio areia movediça, meio pântano. Mal consegue se movimentar. Cada passo é um custo, um enorme sacrifício. Mesmo assim, o nosso herói vai que vai. Não desiste. Arrasta-se e chega à outra margem. Vou nessa toada. Devagar e sempre, mas chego lá.

Mais ou menos como me dizia o Edson Wander, um mineiro de nome pomposo:

— Dasveis mi sintu anssim.

Pois é, querida.

Às vezes, me sinto assim.

II.

Explicar, explicar, eu não sei bem.
Posso tentar. Mas, não há certeza nenhuma.

Tenho um trampo legal. Gosto do que faço. Depois de 30 anos quebrando pedra nas redações, modesta e discretamente vim parar na Universidade, obra e graça do acaso. Do meu filho, de um professor chamado Sérgio Rizzo e uma professora chamada Katy Nasar – mas, esta história um dia eu conto, não hoje…

Vim me chegando de leve, sem pretensão até que apeei meus trens – e aqui estou na coordenação de jornalismo. Diria, sem medo de errar, que é o melhor momento da minha vida profissional. Mesmo com todos os desafios que tal função nos propõe. É outro quebrar pedras sem fim. Incide em dedicação, planejar, ouvir, decidir e tentar ser o mais justo possíve. Uma tarefa e tanto: formar os jornalistas do futuro, pessoas como você e tantos outros que aqui chegam com um belo sonho. Diria, por vezes, um sonho fantasioso e nos cabe podar a fantasia e deixar o sonho luzir…

No aspecto profissional, não há do que se queixar.

A perfeição é uma meta.
O barato é perseguí-la, com qualidade de vida.

III.

E daí que, acho, vem o enrosco. O que é qualidade de vida no Brasil de hoje? Como alcançar esse objetivo numa cidade caótica como São Paulo? Como enxergar com bons olhos o futuro com todo esse processo de imbecilização do Planeta?

Não é por nada, objetivamente. Mas por tudo.

Entendeu?

Me veio agora à lembrança o amigo Nasci, na Redação do jornal, quando chamava nossa atenção para a tal invisível – mas, verdadeira – linguagem dos sinais. Repetia a máxima consagrada pelo mago da bola, Denílson. Lembram dele? Por onde anda?

Um dia o craque sapecou essa, ao vivo, numa emissora de rádio, sem direito, portanto, a edições, floreios, reparos e o escambau.

Pergunta do repórter esportivo, importantíssima como de costume. Provavelmente fez um desses cursos complementares maravilhosos:

— Como foi o jogo, Denílson?

Resposta, direta e reta.

— Tem dia que de noite é fogo…

Era por aí que o Nasci dava o toque:

— Vai devagar, meu caro. Tem hora de chegar e tem hora para sair.

E todos em coro completávamos:

— Não apresse o rio. Ele corre sozinho.

IV.

É nessa levada que me seguro. Estou atento aos sinais. Que, por vezes, demoram, mas chegam. Sempre chegam. Como seu email hoje veio e me lembrou um saudoso amigo e me fez feliz pra dedéu. Só de saber que você ainda lembra deste velho amigo. Distante, mas para sempre amigo.

* E olhe que nem falamos de samba-rock. Que, você sabe, não existe. Existe Jorge Duílio Lima de Menezes. Benjor, primeiro e único. Os demais são cópias, das cópias, das cópias, das cópias…

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