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Para ouvidos modernos – Philip Glass prepara a encenação de sua ópera no Brasil

Foi um lance de pura intuição. No ano passado, quando o compositor norte-americano Philip Glass viu a peça Eletra com Creta, dirigida por Gerald Thomas, percebeu logo que poderia contar com o feeling do amigo para realizar uma antiga aspiração. Não vacilou. Quando o espetáculo terminou correu até Thomas e lhe propôs encenar sua ópera Akhnaten aqui no Brasil. “Esse trabalho”, explica Glass, “foi escrito em 1983 e já teve duas outras montagens que não me agradaram plenamente.”

As duas foram bem aceitas por crítica e público, mas, segundo o compositor, não conseguiram uma complementação cênica como ele imaginara. Essa perfeita união entre música e palco, Glass tem certeza de conseguir com a montagem brasileira, sob a direção de Gerald Thomas e com cenários de Daniela Thomas. Na semana passada, Glass e o maestro e arranjador Michael Riesman desembarcaram em São Paulo para os primeiros – e efetivos – passos da versão brasileira de Akhnaten. Eles vieram participar da escolha dos oito cantadores solistas para os dois elencos da ópera.

Já no aeroporto, Gerald e a esposa Daniela os aguardavam ansiosos: “É um privilégio para nós”, dizia Daniela, “poder conviver com um músico como Glass, que literalmente está revolucionando a ópera no mundo todo”. E acrescentava: “Ele está no mesmo nível de compositores como Mozart; Verdi…” Gerald também se entusiasmava: “É importante compreender que essa produção (orçada inicialmente em 52 milhões de cruzados) vai elevar o Brasil ao que há de mais atual nos palcos do mundo”.

Akhnaten narra, através da música personalíssima de Glass, a vida de um faraó egípcio que governou de 1385 a 1357 antes de Cristo. Contrariando preceitos religiosos milenares, esse faraó proclamou a existência de um deus único, supremo e universal, o que o tornou o primeiro monoteísta da História. “Um personagem fascinante” no entender de Gerald, capaz também de declarar a primeira divindade abstrata que se tem notícia e de romper barreiras milenares que modificaram o curso da civilização.

“Akhnaten pôs fim a todas aquelas divindades egípcias – diz Gerald -, baniu os sacerdotes de Amon, que eram as figuras mais proeminentes do panteísmo. Tudo isso na sociedade mais conservadora da História da humanidade.”

Mas Akhnaten e sua coragem não duraram muito. Logo os sacerdotes de Amon retomaram o poder, demoliram seus templos e, radicais, apagaram o nome do faraó das dinastias reais. Só no século XIX sua existência foi reconhecida.

Cantada em árabe, com regência de Michael Riesman, a ópera faz parte de uma trilogia de Philip Glass sobre ilustres personagens da História. A primeira foi Einstein On The Beach (1975); sobre o físico Albert Einstein, escrita em inglês. Satyagraha (1980), em sânscrito, fala sobre os feitos do líder indiano Mahatma Gandhi.

“São esses personagens que me inspiram”, confessa Glass. “Eles têm em comum o fato de terem mudado o mundo em questão de dias, com ações corajosas e desprendimento. Eles não ficaram apenas nas palavras.”

* Revista Afinal

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