Nas tardes de domingo, o menino Tchinim grudava os olhos na tela da TV Invictus (um caixotão pesado, quadradão, com longo tubo, que mal e mal se sustentava nos quatro pés ‘palitos’).
Era dia de ver o jogo do Campeonato Paulista.
Não havia exclusividade e as partidas eram transmitidas ao vivo.
(Foi assim até 1965, se não me engano)
O pai preferia ver pelo canal 7, TV Record, que tinha uma equipe impecável. O sóbrio Raul Tabajara era o locutor. O elegante Paulo Planet Buarque, o comentarista. O professor Flávio Iazetti, o comentarista de arbitragem. Com Sílvio Luiz e Reali Júnior, como repórteres de campo.
Tchinim era fã do time da TV Tupi, canal 4.
Tinha os comentários ácidos e imprevisíveis de Geraldo Bretas e as reportagens eram de Eli Coimbra (que vez ou outra aparecia para jogar no segundo quadro do São Luiz, um time de várzea da Aclimação, perto da casa do garoto) e Sérgio Backlanos, o Alemão, que mais tarde, no Jornal da Tarde, se tornou um dos melhores textos da história do jornalismo esportivo brasileiro.
Mas a grande atração da emissora era o narrador. Walter Abrahão parecia se divertir na transmissão de uma partida. Não queria correr atrás da bola, como os locutores de rádio. Transmitia o jogo com pausas que nos faziam identificar quem estava com a bola e inventava expressões como “o placar está oxo” no lugar de dizer de zero a zero. Tinha um sotaque acaipirado e, vez ou outra, tascava uma observação nada a ver:
— Tá gordo o Mirandinha, hein!
O pai era durão, mas fazia a vontade de Tchinim.
E, óbvio, divertia-se tanto quanto o garoto.
Ano passado, o austero senhor reviu Walter Abrahão depois de longos anos sem vê-lo. Ele participou como convidado em um dos programas Loucos Por Futebol, da ESPN Brasil. Aos 80 anos, Abrahão preservava a mesma simpatia, o mesmo carisma dos tempos idos. Tempos em que o tal senhor, hoje de cabelos grisalhos, era chamado de Tchinim, que o Brasil era o indiscutível campeão mundial de futebol e que havia uma doce promessa de vida em seu coração…