A melhor música de Milton Nascimento?
Para mim, continua sendo “Travessia” que o lançou para o estrelato (nunca imaginei escrever essa palavra). Na ocasião, ganhou inclusive o prêmio de “melhor cantor” do Festival Internacional da Canção, em 1967, e chamou a atenção de grandes nomes da MPB.
Elis, por exemplo, ficou apaixonada pelo timbre diferenciado do intérprete e pelas composições deste carioca/mineiro – nasceu no Rio e foi criado em Três Pontas.
Logo nossa maior cantora gravou “Canção do Sal” e outras tantas da dupla Milton e Fernando Brant.
A bem da verdade, o talento de Milton impressionou seus pares da cena artística desde cedo.
Quando saiu de Minas para tentar a sorte no ‘sulmaravilha’, foi acolhido em São Paulo por dois dos maiores cantores da época: o saudoso Agostinho do Santos e o grande Jair Rodrigues. Milton chegou a morar na casa deles enquanto se apresentava na noite paulistana.
Conta-se que foi Agostinho do Santos que, contra a vontade e a timidez de Milton, inscreveu “Travessia” no FIC e obrigou o próprio autor a interpretá-la, diante de um Maracanãzinho lotado e, por vezes, ensandecido.
— Vai lá, e mostra quem você é, rapaz!
Até bem pouco tempo atrás, Jair Rodrigues guardava entre as relíquias de sua notável carreira o caderno em que o cantor/compositor escreveu originalmente os versos da canção que o consagrou.
Entrevistei Milton Nascimento algumas vezes ao longo de minha carreira de repórter.
No início, era monossilábico, tímido em suas declarações.
Depois, foi se soltando diante dos repórteres.
Quase não o reconheci da última vez que falamos. Ele havia gravado o álbum “Crooner” em reverencia aos hits que cantou nos bailes da vida, no início de sua carreira. Eu fui designado para acompanhá-lo na visita que fez a um dos salões de baile em São Paulo para divulgar o disco e o show. Estava eufórico, falante que só.
Dizia-se entusiasmado por reviver suas origens de cantor de orquestra.
– Estou que é só emoção, confessou.
Emoção que impregnou a estreia do show que fez dias depois – e que se espalhou para a toda embevecida plateia, sentimento raro, único, que só os grandes artistas, como Milton (que hoje completa 70 anos) consegue nos transmitir.
Parabéns, Bituca!