Permitam-me um instante de saudade…
Sempre que estréia uma novela, fico a imaginar o que diria meu queridíssimo amigo Ismael Fernandes sobre a tal. Não sou um noveleiro mor, mas dou minhas espiadinhas e, confesso, sinto falta das nossas conversas (quase discussão) do dia seguinte naquela velha redação de piso assoalhado, onde trabalhávamos.
Ismael era apaixonado por novela. Foi um grande estudioso e pesquisador do assunto – o maior deles, talvez; o pioneiro, certamente. Chegou mesmo a escrever duas ou três tramas para o SBT, bem na linha do folhetim derramado. Lembro-me de duas delas: Meus Filhos, Minha Vida (este título é a cara do Isma) e Uma Esperança no Ar. Fez também uma peça de teatro, com foco no subtexto do gênero. O título? Novela das Oito. Bem interessante, ficou dois ou três meses em cartaz – e, creio, merecia uma remontagem.
Por que estou lhes falando sobre o Ismael e a minha saudade do amigo que se foi – e lá se vão 10 anos?
Ontem, no post, falei sobre ele e o Nasci, outro que insuflava as discussões.
Outra coisa.
A partir das chamadas da novela Paraíso, que entrou em cartaz na segunda, às 18 horas, não contive o impulso de folhear um dos livros que Ismael escreveu sobre o tema – Memória da Telenovela Brasileira. Queria reler o que escreveu sobre a novela de Benedito Ruy Barbosa, atual atração da Globo.
Lá está:
A trama foi ao ar, também no horário vespertino, de 23 de agosto de 1982 a 25 de março de 1983.
Para Ismael, foi outro grande acerto do autor, especialista em histórias regionais. Mesmo sem grandes abordagens políticas, como o autor fizera em Cabocla, o amigo escreveu: “O mote central (o amor entre Santinha e o Filho do Diabo) é de uma felicidade ímpar”.
E acrescentou no corpo do verbete:
“O incrível caso de amor entre José Eleutério (Kadu Moliterno) e Maria Rita (Cristina Mulins). Ele conhecido como o Filho do Diabo e ela como Santinha. Amor que se torna mais acirrado quando Santinha, rezando, reclusa em seu quarto, consegue o “milagre” de salvar José Eleutério, ferido após sofrer uma queda em um torneio de peões boiadeiros. Ela, em pagamento pela graça recebida, vai para o convento – realizando o grande sonho de sua mãe, a beata Dona Mariana (Eloísa Mafalda). Ele, apaixonado e grato, rapta a futura freirinha. Mas, a novela tem outros entrechos de interesse. As novidades trazidas à pacata cidade por Otávio (Mário Cardoso) e Ricardo (Caíque Ferreira). A ascensão da ingênua caipirinha Ana Célia (Simone Carvalho). Os dramas de Edite (Bia Seid), entre outros.”
Grande Ismael, saudoso amigo.
EM TEMPO – O papel do cantor sertanejo Daniel, na versão anterior, comentada por Ismael, foi interpretado por Sérgio Reis. FOTO no blog: Jô Rabelo