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Parque Shangai

Carla Mariana me escreve.

Pergunta como fui de férias…

(Bem, obrigado. Pena que passaram rápido demais.)

… e me pede “uma ajuda cultural”.

Ela precisa encontrar relatos sobre o Parque Shangai que existiu ali na região do Glicério, onde hoje fica “aquela imensa igreja Deus É Amor.

Diz que é para um trabalho acadêmico.

— Professor, você conhece alguém ou algum lugar que poderia ter material sobre o assunto?

Conhecer, conhecer, eu não conheço.

Mas, convido você e os meus cinco ou seis amáveis leitores para uma brevíssima viagem no túnel do tempo.

Tenho uma vaga lembrança do que foi o Shangai.

Era menino de tudo. Cinco ou seis anos, se tanto.

O pai me levou ali, ao menos uma vez.

Eu e minhas irmãs.

Era um parque nos moldes dos parques daquela época.

Como ainda hoje é possível ver em algumas pequenas cidades do interior.

Só que agora têm forma itinerante.

Ficam um fim de semana em cada cidade – e vida que segue.

O Shangai ficava ali na várzea do Glicério, limite do Reino Unido do Cambuci, onde nasci e me criei, e o Centro da cidade. Em frente, ainda existe – em escombros, diga-se – o quartel do Exército do Parque D. Pedro. Também eram vizinhos do Parque os prédios do IAPI, o quartel do Corpo de Bombeiros, o cine Itapura, a Fábrica de Cigarros Sudam e os campos de futebol de times famosos como Huracan, Mocidade, Estrela do IAPI, Internacional, Bangu e Estudantes.

Um pouquinho mais afastado – mas, próximos ainda – ficavam os edifícios da região chamada de Treme-Treme, de fama pra lá de duvidosa.

Dentro do Parque as atrações tradicionais: o carrossel de cavalinhos, a barraca de tiro ao alvo (com espingardinhas chinfrins e prêmios idem), a de derruba-latas, a roda gigante (que não era tão gigante assim), entre outros brinquedos das antigas.
Um jeitão de quermesse, de festa junina dominava o lugar. Com as guloseimas da época: pipoca, algodão doce e raspadinha.

Miam, miam, miam, miam… Que delícia!

Ficávamos zanzando por ali, entre o encantamento e pânico.

Explico o pânico.

Logo ali no fundo do terreno havia dois galpões que guardavam as grandes sensações do parque: o assustador Trem-Fantasma, onde me arrisquei ir uma única vez (e por um bom tempo precisei dormi de luz acesa) e a jaula da versão brasileira do King Kong que, me disseram, arrebentava correntes e cadeados e num acesso de fúria punha os espectadores para correr.

Por mais que o pai insistisse, preferi não conhecer a fera – e viver tamanha emoção.Optei por uma segunda rodada de pipoca, algodão doce e raspadinha.

— Miam, miam, miam, miam…

** Foto no blog: Jô Rabelo

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