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O culto, o destino e o sonho

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Foto: Catedral da Sé, 31 de outubro de 1975. Culto ecumênico em memória a Vlado. (SJESP)

Falei ontem, neste posto de observação, sobre as tramas do romance O Senhor Embaixador, do notável escritor Érico Veríssimo.

Registrei a oportunidade da minha releitura  e algumas pensatas sobre nós, povos e países desta sofrida – mas, não abatida – Latino América.

Lembrei por lembrar, no decorrer do dia, as convicções adhemaristas do meu saudoso pai em contraponto ao janismo exacerbado do meu tio Nandinho. Nada que boas doses de vinho tinto, vindas diretamente de São Roque, não fizesse terminar em bravatas de amizade eterna entre os dois.

— O Brasil precisa de um gerente, dizia o velho Aldo – aliás, continuou a repetir o bordão vida afora. Morreu em 1999 aos 82 anos, e não viu o país nos eixos, como tanto insistiu em preconizar.

Saudade do velho e do tio ranzinza.

Hoje, 31 de outubro, completa 45 anos do culto ecumênico que se realizou na Catedral da Sé em reverência à morte do jornalista Vladimir Herzog assassinado nos porões da ditadura.

O ato teve à frente o valoroso arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, o rabino Henri Sobel e o pastor evangélico James Wirght.

No entender do então arcebispo de Pernambuco, dom Hélder Câmara, presente a cerimônia:

Foi esse o primeiro ato que pôs em xeque a então ditadura militar, aquela que ainda hoje os áulicos insistem em dizer que nunca existiu.

Herzog, naquele fatídico outubro de 1975, era professor de telejornalismo da minha turma na USP.

Tempos depois, como coordenador do curso de jornalismo, convidei ao jornalista Mino Carta para vir a São Bernardo do Campo participar de um encontro com estudantes da Universidade Metodista de São Paulo. Tema da palestra: 30 anos da morte do jornalista Vladimir Herzog.

Naquela ocasião, Mino reiterou que, apesar de todos os pesares, vivia-se um momento em que se ousava sonhar com um país mais justo, mais solidário, mais contemporâneo.

Para tanto, destacou, só e unicamente a consolidação do estado democrático seria a pedra filosofal. A partir da qual, se extirpariam todos os males sociais.

Esse desejo, creio, sempre foi uma utopia de quem se entende um humanista.

Meu primeiro editor, o jornalista Antônio de Oliveira Marques, gostava de contar a história que viveu no dia do suicídio do presidente Getúlio Vargas, em agosto de 54. Ele junto a outros jornalistas e estudantes editaram um jornal de uma só folha e uma só notícia. E saíram pela cidade  a espalhar a convocação:

“QUE O POVO SAIA ÀS RUAS E TOME PARA SI O DESTINO DA PÁTRIA.”

Parece cena das vielas mal-iluminadas de Sacramento, republiqueta imaginária do livro de Veríssimo que acabei de ler.

Meus caros, todas essas reflexões são para dizer o seguinte. Dois pontos, parágrafo:

Acompanho à distância as eleições municipais deste ano. A impressão que tenho é a de que iremos às urnas sem convicções claras, sem quaisquer sonhos. Desconfiados até o talo, de que somos mesmo capazes de reger, com nosso voto e nossa participação, o destino da Pátria.

O desalento, parece, venceu a esperança.

Mas, há que se reconhecer: o pleito é a imprescindível conquista de nossa tenra e abalada – mas, não destruída – democracia.

E, acreditem, meus caros, este é o único caminho que nos resta seguir.

Sempre…

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