Divirto-me com as ‘viagens’ de Saramandaia, mesmo não sendo um inveterado noveleiro.
Aliás, bom que se registre, não ouso comparar a versão atual com a original, de 1976, assinado por Santo Dias – ou melhor, pelo grande Dias Gomes.
Registro, em reverência à memória do amigo Ismael Fernandes, que tal ousadia só caberia nas barulhentas tardes de ‘fechamento’ na velha redação de piso assoalhado e grandes janelões para a rua Bom Pastor.
Ismael era apaixonado pelo gênero e, a partir desse interesse, escreveu diversos livros sobre o tema. Era fonte segura das informações de bastidores que, além de abastecer outros tantos estudos, temperava nossas discussões sobre tudo e sobre todos – inclusive, novelas.
Único senão que faço à trama atual, recheada de acertos e atores revelações, é a pouca projeção que se dá à canção-tema da novela anterior, Pavão Mysteryozo,
A enigmática composição do cearense Ednardo, que emoldurava a abertura e as cenas de João Gibão, agora está restrita a uma ou outra aparição do personagem.
Além do encantamento que a música propicia a partir dos primeiros acordes, ressalto a importância da obra naquele exato momento histórico que vivíamos: foi a primeira canção de um dos autores da chamada ‘geração de briga’ da MPB (Fagner, Belchior, Ednardo, Gonzaguinha, Alceu, Geraldinho, entre outros) a furar o bloqueio das emissoras de rádio e TV, reticente a qualquer obra que insinuasse algum engajamento, alguma inquietação.
Os versos finais de Ednardo, inspiradíssimo, refletem o anseio libertário, o sonho e a contestação à ditadura que o País começava à respirar.
Diziam (e dizem) assim:
Não tema, minha donzela,
Nossa sorte nesta guerra.
Eles são muitos,
Mas não podem voar